A Ata do Copom, publicada na quinta-feira, expôs cruamente os atuais limites do crescimento do Brasil.
Os juros básicos (Selic) já caíram o que tinham de cair. Daqui para a frente, não se espere mais generosidade do Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, em expansão do volume de moeda. Haverá estabilidade monetária "por um período de tempo suficientemente prolongado".
A desvalorização cambial (alta do dólar), entendida pelo governo como instrumento de expansão da competitividade da indústria, também não pode ser acionada mais do que já foi. Ao contrário, trabalhará na direção oposta, por duas razões. Primeira, porque a inflação disparou e se espraia (alto grau de dispersão). Neste momento, o câmbio tem de atuar como freio dos preços. Ou seja, a manutenção das cotações do dólar no nível em que estão (R$ 2,05 por dólar) fará com que os preços dos importados não aumentem em reais. Segunda razão, o câmbio vai se valorizando em termos reais. Explicando melhor: a desvalorização do real, de cerca de 20% ao longo de 2012, enfrenta a inflação do ano passado, que já foi de quase 6%, mais a inflação deste ano, provavelmente do mesmo calibre. Como as cotações do dólar deverão se manter até o fim deste ano em torno dos R$ 2,05 (parágrafo 20 da Ata), a maior parte da força que o governo pretendeu dar ao setor produtivo via câmbio está sendo carcomida pela inflação.
A outra opção, não mais ao alcance do Banco Central, mas do governo, é expandir as despesas públicas com o objetivo de relançar o setor produtivo. O Banco Central adverte que essa não é uma boa ideia. Puxaria o consumo, já fortemente esticado, o que, por sua vez, aumentaria ainda mais "o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta". Além disso, manter rédeas mais soltas no gasto público contribuiria para a perda de confiança por parte do setor produtivo.
Por falar nisso, o Banco Central reconhece que o ambiente de negócios e "a fragilidade do investimento" no Brasil enfrentam "incertezas e lenta recuperação da confiança" (parágrafo 26). Ou seja, a política econômica não passa firmeza para o setor produtivo, que é, afinal, de onde poderia provir a maior parte dos investimentos. Mesmo se der certo a ofensiva do governo nas concessões, ainda será preciso esperar pela maturação dos investimentos para ter importante aumento da oferta - como pede o Banco Central.
E, convenhamos, a política de preços dos combustíveis corrói a capacidade de expansão da Petrobrás. Portanto, a ação (ou omissão) do governo é fator de inibição do investimento no segmento do petróleo - justamente onde estaria pronto para acontecer.
O avanço da economia enfrenta mais dois importantes limites "físicos": ameaças à oferta de energia elétrica e mercado de trabalho fortemente aquecido. Dito com outras palavras, depois da sucessão de pibinhos, o setor produtivo enfrenta incertezas sobre a capacidade de suprimento de energia elétrica e uma escassez (e aumento de custos) de mão de obra. Imagine-se o que poderá acontecer se sobrevier o "pibão grandão" de 4,0% a 4,5%, pedido pela presidente Dilma Rousseff.
Enfim, o que está em foco não é quanto o País vai crescer, mas quanto pode crescer (crescimento potencial).
Fonte: O Estado de S. Paulo
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