A última pesquisa semanal Focus realizada pelo Banco Central (BC) mostra que a estimativa para o rombo nas contas externas neste ano passou para US$ 68 bilhões. Há um mês, os economistas sondados pelo BC previam US$ 65 bilhões. Para o ano que vem, a previsão subiu de US$ 70,67 bilhões para US$ 73,45 bilhões. A fragilidade da balança comercial, diferença entre exportações e importações, as remessas recordes de lucros ao exterior de multinacionais instaladas no país e os gastos recordes de viagens internacionais feitos pelos brasileiros no exterior fizeram com que o Brasil registrasse o maior déficit nas contas externas para meses de fevereiro desde o ano de 1947. O resultado de todas as trocas de comércio de bens e serviços ficou negativo em US$ 6,6 bilhões. Isso representa uma alta de 283% no déficit em transações correntes em relação a fevereiro do ano passado.
Essa piora nas nossas contas externas preocupa porque, historicamente, as grandes crises em nossa economia foram causadas por problemas nas nossas contas externas. Os choques do petróleo (1973 e 1979) são exemplos de eventos externos que desajustaram nossas contas externas e provocaram a fuga de capitais, o que desestabilizou nossa economia. E é esse processo que pode estar em curso. Infelizmente, acreditamos que todo esse descompasso é resultado de uma total falta de habilidade do governo federal, especialmente no que diz respeito a condução da política econômica.
O governo federal continua apostando em incentivo fiscais direcionado a setores específicos e acesso ao crédito a empresas escolhidas para serem vencedoras. Acredita que, como num truque mágico, o aumento na demanda agregada será suprido pela elevação nos investimentos e na produção. O que temos visto, no entanto, é o aumento espantoso das importações. No primeiro trimestre de 2013, por exemplo, elas foram 11,6% maiores do que em igual período do ano passado. As exportações, no mesmo período, elevaram-se 3,1%.
O governo conta com a entrada de investimento externo direto para custear o déficit nas transações correntes. O risco, com esse cenário de volatilidade internacional, é que esse fluxo de capitais diminua abruptamente, como já ocorreu em outros momentos em nossa história, e o governo pode ser obrigado a tomar medidas que afetem ainda mais o já frágil crescimento de nossa economia. É uma posição insustentável no longo prazo. A área econômica do governo da presidente Dilma tem adotado uma política econômica totalmente inadequada. Ela nos trouxe de volta a inflação, o déficit recorde na balança comercial, o descontrole na balança de pagamentos, a desindustrialização e, como não poderia deixar de ser, ela nos conduziu a um crescimento medíocre. Nosso Produto Interno Bruto cresceu, apenas, 0,9% no ano passado.
Esses dois primeiros anos do governo Dilma trouxe desencanto aos brasileiros. Nos fez conviver com fantasmas que nos assombraram durante anos no passado e que tínhamos a muito custo conseguido superar. É a primeira vez, por exemplo, que essa geração de brasileiros com menos de 18 anos convive diariamente com o problema da inflação. Esse, certamente, é um dos tristes legados que o governo Dilma deixará para o nosso país além do preocupante desequilíbrio de nossas contas externas.
Rubens Bueno é deputado federal pela Mobilização Democrática.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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