A entrevista dada pelo Lula que consta de um livro que fala sobre o seu – e o de Dilma – períodos de governo, que será lançado em futuro próximo, é um dos mais gritantes exemplos de hipocrisia que um governante de um país pode expressar.
Diz o ex-presidente: “Você pode fazer o jogo político, aliança política, mas não precisa estabelecer uma relação promíscua para fazer política”. Uma declaração dessas, parece como sendo de alguém que, olhando de fora, critica a promiscuidade no exercício do poder e mostra a possibilidade de um caminho de política de alianças sadia para garantir um governo eficaz e para impedir que o partido dominante seja tomado por interesses pessoais.
Da boca do Lula uma declaração dessas é um acinte à inteligência dos brasileiros. Foi exatamente o que ele fez durante o seu governo: uma política de alianças com relações promíscuas em que os benefícios transferidos aos aliados, dinheiro e pedaços de governo eram, e ainda são, os instrumentos para manter a lealdade de pessoas e partidos.
Lula diz: “O PT precisa voltar a acreditar em valores que a gente acreditava e que foram banalizados por conta da disputa eleitoral”. Ainda mais: “Às vezes tenho a impressão que partido político é um negócio…”. Os valores éticos e políticos em que ele acreditava – se isso é verdade – só lhe serviram para chegar ao poder. A partir daí, passaram a valer, para a cúpula do governo e as principais direções do PT, o mais profundo pragmatismo e oportunismo, o uso de quaisquer métodos, independentemente de conceitos éticos e compromissos políticos, para a manutenção do poder conquistado. Às bases petistas e seus simpatizantes só restou manter as teses do passado que tinham feito o partido e seu prestígio crescerem, afastados do poder que tinha outros parâmetros e outra dinâmica, em geral, conflitante com as próprias teses partidárias. Acenar com uma volta ao passado, o purismo de então, é pura demagogia, enganação para encobrir perante a sua própria base partidária tudo o que fizeram contra o interesse público. Ele precisa dessa base ainda crente no futuro das teses que defendia, para manter a relação esquizofrênica entre o governo e o PT corruptos e a sua base purista.
Ninguém mais que o Lula é responsável por estabelecer a relação com os partidos como uma relação de negócios, que ele agora diz abominar.
Sobre a declaração recorrente de que a oposição tentou depô-lo, ele sabe que não é verdade. Eu era o líder do PSDB na Câmara dos Deputados no ano de 1995, quando o episódio do mensalão veio à tona, e eu fui um dos autores da CPI – talvez o principal responsável pela sua existência – cujos resultados hoje se conhece, com a condenação de muitos petistas e aliados, e posso afirmar que em nenhum momento se discutiu a possibilidade de afastá-lo do governo. Não porque não achássemos que ele não merecia, após termos tido conhecimento de tudo o que ocorreu no cerne desse governo, mas porque sabíamos que não teríamos suficiente apoio popular para executá-lo. Qualquer tentativa de fazê-lo apenas o vitimaria e fortaleceria, sem se chegar a qualquer resultado concreto.
Lula é uma figura singular. Não tem escrúpulos, manipula as pessoas e os fatos, utiliza sua indiscutível capacidade de se expressar perante os mais simples, tem um forte carisma, e é capaz de emocionar os simpatizantes de seu partido e, mesmo, milhões de pessoas, com estórias e fatos que ele mesmo cria. Um PHD em hipocrisia.
Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB
Fonte: Portal do PSDB
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