Freud Godoy recebeu R$ 98,5 mil do operador do mensalão em 2003
Ezequiel Fagundes e Thiago Herdy
BELO HORIZONTE e SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) em Minas Gerais está prestes a concluir perícia na conta bancária da empresa Caso Comércio e Serviços Ltda., pertencente ao ex-assessor especial da Presidência durante o governo Lula, Freud Godoy. O pedido de quebra de sigilo do ex-segurança do petista foi atendido pela Justiça Federal e busca esclarecer a destinação dada a um repasse feito a ele por Marcos Valério, o operador do mensalão, no valor de R$ 98,5 mil, em janeiro de 2003. Em depoimento à Polícia Federal, Valério informou que os recursos teriam sido usados para pagar despesas pessoais de Lula, o que o ex-presidente nega.
Com a perícia, a PF também deseja saber o caminho de outro depósito feito para Freud, em dinheiro, em março de 2004, no valor de R$ 150 mil. Freud afirma ter recebido o dinheiro pela venda de um lote em um condomínio de São Bernardo do Campo. Porém, pesquisa realizada pelo GLOBO no cartório de imóveis não atestou haver registro de transação imobiliária em nome de Freud, parentes, sócios ou empresas. Sobre a ausência do registro, Freud negou haver motivos para suspeita:
- Não é porque não há registro em cartório que o terreno não me pertencia - disse ao GLOBO.
O próximo passo da investigação da PF é ouvir o depoimento de Freud e o de sua mulher, Simone Godoy. Na condição de investigados, eles poderão permanecer em silêncio, alegando falar apenas em juízo. Simone é sócia do marido na empresa investigada.
A Polícia Federal instaurou pelo menos 29 inquéritos em Minas para investigar outros beneficiários do esquema do mensalão que não foram denunciados na Ação Penal 470, julgada em 2012 pelo STF.
Em depoimento prestado em setembro, em meio ao julgamento do mensalão, Valério disse ter realizado dois repasses a Freud para bancar "gastos pessoais" de Lula. Na ocasião, ele informou o valor e deu detalhes apenas sobre um dos repasses, o primeiro, no valor de R$ 98,5 mil, que já havia sido tornado público em 2005, na CPI dos Correios.
Godoy, em 2005, afirmou à PF que o pagamento se referia à "prestação de diversos serviços durante a campanha do presidente Lula ocorrida em 2002" e durante a fase de transição do governo, tais como despesas de segurança, alimentação, transporte, hospedagem de equipes de apoio e segurança. Após esse período, Freud teria procurado o comitê eleitoral do PT a fim de ser ressarcido dos gastos, que alcançavam R$ 115 mil.
Foi orientado pela tesouraria a procurar a SMP&B Comunicação, de Marcos Valério. Depois de contatar a empresa, emitiu uma nota fiscal no valor do crédito existente e a encaminhou pelos Correios, recebendo de volta um cheque de R$ 98,5 mil, com as deduções tributárias. Freud admite não ter realizado a escrituração contábil dessas despesas.
Também em 2005, o Coaf identificou um depósito de R$ 150 mil em dinheiro na conta da Caso, em março de 2004. Em 2010, Freud falou sobre o valor depositado em sua conta à CPI da Bancoop. Disse ter comprado um terreno no Condomínio Swiss Park entre 1996 e 1997 "de um diretor de empresa que havia sido demitido e estava se mudando para Joinville". Contou tê-lo vendido em 2004 e recebido o pagamento "em dinheiro de uma senhora que era dona de churrascaria e posto de gasolina, declarado no Imposto de Renda". Em seguida, teria reinvestido o dinheiro na própria empresa.
Ao prestar depoimento à PF no inquérito que investigou o escândalo dos aloprados, em 2006, Freud disse não conhecer Marcos Valério e afirmou que sua rotina, à época em que era assessor presidencial, era permanecer uma semana em Brasília e outra em São Paulo, para descanso. Sobre o período passado em São Paulo, disse que prestava "eventualmente apoio ao presidente Lula e sua família, relacionado a pagamento de pequenas contas relacionadas a residência e acompanhamento de serviços". O depoimento consta do processo que tramita sob sigilo na Justiça Federal do Mato Grosso.
Fonte: O Globo
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