• Marina ajuda Aécio a manter eleitores, enquanto família Campos pode garantir votos que tucano dificilmente conseguiria sozinho no Nordeste, afirmam
Eduardo Bresciani – O Globo
O apoio de Marina Silva (PSB) a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno reforça a simbologia da mudança, defendida pelo candidato, e serve para consolidar a vontade manifestada pela maioria do eleitorado da candidata derrotada, medida pelas pesquisas de intenção de voto. Na visão de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, o posicionamento de Marina ajuda Aécio a manter eleitores que já tenderiam a apoiá-lo, enquanto o respaldo anunciado no sábado pela família de Eduardo Campos, morto em agosto, pode trazer para o tucano votos que ele dificilmente conseguiria em Pernambuco, onde teve seu pior desempenho no primeiro turno, e no restante do Nordeste.
Doutora em Ciências Políticas e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Vera Chaia afirma que o peso político da declaração de voto de Marina fica esvaziado devido ao processo criado pela candidata derrotada para anunciar seu posicionamento, mas não deixa de ser importante.
- Ela demorou tanto, colocou tantas exigências que eu sinceramente não sei se haverá uma repercussão direta em voto. Mas claro que, para o Aécio, isso é importante do ponto de vista político e simbólico, ainda que não pareça ser um apoio tão verdadeiro e que no PSB já existam divergências declaradas - afirmou.
Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice, observa que a movimentação manteve uma agenda positiva para o tucano. Para ele, a posição de Marina pode ajudar Aécio a manter o apoio de eleitores de centros urbanos identificados com Marina que já tinham indicado voto no candidato do PSDB neste segundo turno (64% do total dos votos em Marina, segundo o Ibope).
- A declaração de Marina, ainda que tenha sido desvalorizada pela demora, é importante porque cria mais um fato positivo para Aécio. Vale ressaltar que Marina tem muitos votos em centros urbanos, e esse apoio endossa a decisão que a maior parte dos eleitores dela já vinha manifestando nas primeiras pesquisas - destaca.
O professor João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB), disse que o apoio de Marina agrega à campanha de Aécio também por refletir a repulsa dela aos ataques feitos pela campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno:
- Esse movimento era esperado, até por causa dos ataques que ela sofreu de Dilma e do PT, enquanto Aécio maneirou nas críticas. Ela colocou muitas exigências, algumas até descabidas, mas é um fator positivo e que pode ajudar na decisão do eleitor que permaneceu com ela até o final.
Os analistas consideraram extremamente valioso o anúncio da família de Campos a favor de Aécio. Foi em Pernambuco que ele teve no primeiro turno seu pior desempenho no estado, com apenas 5,93% dos votos, enquanto Marina Silva foi vitoriosa com 48,05% do eleitorado, mais de 2,3 milhões de votos.
- Esse apoio da mulher e dos filhos de Eduardo Campos é importante. Marina teve mais de dois milhões de votos em Pernambuco e este capital político é mais da família do que da candidata - avaliou Aragão.
Para Vera Chaia, esse apoio tem ainda a vantagem de parecer mais verdadeiro:
- Aécio teve o seu pior desempenho neste estado e, agora, pode resistir mais à força do PT.
Peixoto vai além e acha que o endosso da família Campos pode auxiliar o tucano em outros estados do Nordeste, por trazer de volta o clima de comoção que impulsionou Marina em parte da campanha:
- A família de Campos conseguiu eleger o governador no estado, Paulo Câmara, e alavancar Marina. Avalio que isso pode se espalhar pelo Nordeste, porque o nordestino é muito sentimental e emotivo. Por isso, é um apoio que pode extrapolar Pernambuco e ajudar Aécio em toda a região.
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