Fernando Taquari – Valor Econômico
SÃO PAULO - Animados com a votação de Aécio Neves em São Paulo no primeiro turno, integrantes do diretório estadual do PSDB apostam que o presidenciável tucano pode conquistar 60% dos votos válidos no Estado no segundo turno da eleição presidencial. Esse resultado representaria o melhor desempenho de um candidato a presidente do partido em terras paulistas desde pelo menos 2002. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não disponibiliza em seu site informações mais detalhadas sobre as eleições presidenciais de 1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi o vitorioso na esfera nacional.
A projeção dos tucanos supera a votação obtida no Estado por José Serra e Geraldo Alckmin, as duas principais lideranças do PSDB paulista, em disputas anteriores ao Palácio do Planalto. Em 2002, Serra teve no segundo turno 44% dos votos válidos e acabou derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou 55%. Com 52%, Alckmin deu o troco e derrotou o petista (47%) no maior colégio eleitoral do país em 2006. Já em 2010, Serra venceu a presidente Dilma Rousseff (PT) por 54% a 45%. Nas três oportunidades, porém, a vitória no âmbito federal ficou com o PT.
Tucanos paulistas, portanto, acreditam que caberá a um mineiro impor aos rivais petistas sua maior derrota em São Paulo desde 2002. A aposta, por outro lado, também serve para pacificar o clima no PSDB em meio às especulações sobre o engajamento de Serra e Alckmin na campanha de Aécio. Isso porque um fracasso do presidenciável em 2014 colocaria os dois tucanos paulistas como candidatos naturais a presidente na eleição de 2018. Aliados do governador reeleito rechaçam a tese sobre a de falta de empenho.
"Alckmin teve um papel fundamental na votação do Aécio (44% dos votos válidos) no Estado", disse o presidente do diretório estadual, deputado Duarte Nogueira. O presidenciável venceu a disputa em 564 dos 645 municípios paulistas, inclusive, em 83% das cidades administradas pelo PT. "O governador adotou ao longo de toda campanha uma postura de militante. E faz o mesmo neste segundo turno", acrescentou José Aníbal (PSDB), primeiro suplente de Serra, eleito para o Senado.
Na realidade, Alckmin demorou para incluir o presidenciável nos programas de TV e permitiu a criação dos comitês conjuntos com PSB que pediam voto nele para governador e em Eduardo Campos para presidente. A ideia naufragou depois da morte do então candidato do PSB em um acidente aéreo em agosto. O engajamento dos paulistas, segundo um dirigente tucano, cresceu de forma gradativa e atingiu seu ápice neste segundo turno com a perspectiva real de vitória, o que não ocorreu nas eleições de 2002, 2006 e 2010, quando os candidatos tucanos pouco ameaçaram a vitória do PT.
Diante da possibilidade do "volta Lula em 2018", tucanos vislumbram nesta eleição a melhor chance de voltar ao Planalto depois de 12 anos. Neste sentido, o esforço concentrado por Aécio representa uma questão de sobrevivência política do partido, revela o dirigente. O PSDB não quer correr o risco de esperar mais 12 anos para voltar a comandar o país, considerando uma possível reeleição de Lula em 2022. Isso representaria no total 24 anos de oposição, fora a possibilidade de ver minguar neste processo sua representação no Congresso.
Por isso, Alckmin e Serra estariam dispostos a esquecer o 'corpo mole' de Aécio nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010, quando o mineiro, com alto índice de aprovação e envolvido em disputas locais, foi acusado internamente de ter feito pouco esforço para eleger os correligionários, então candidatos à Presidência. Por outro lado, os dois tucanos de São Paulo esperam acenos do presidenciável pelo fim da reeleição. O tema é tratado de forma cautelosa no ninho tucano.
Ao ser cobrado sobre o assunto por Marina Silva (PSB), Aécio desconversou. Disse que era a favor da medida, mas que caberia ao Congresso aprovar a mudança.
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