Um efeito do descrédito vivido pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começa a manifestar-se de forma até salutar sobre um partido supostamente alheio a sua esfera de influência direta.
Com bastante atraso, o PSDB moveu-se nesta semana para desvincular-se da imagem do presidente da Câmara, que, por um bom tempo, ocupou de modo informal o papel de líder da oposição.
O PSDB argumenta que a fraquíssima justificação do peemedebista para as contas na Suíça constituiu "fato novo" a fundamentar uma atitude de firmeza que, a rigor, há muito deveria ter sido adotada.
É que o partido submetia-se ao hábil jogo de Cunha, em cujas mãos ainda se detém o poder de deslanchar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A aliança tática revelou-se custosa demais para os tucanos.
O mais importante partido da oposição se via sequestrado pela ação do presidente da Câmara. Mais precisamente, é possível dizer que se tratava de triplo sequestro.
Sensíveis à mobilização das ruas, em que parcelas expressivas da população assumiam palavras de ordem mais inflamadas do que costuma permitir o DNA tucano, setores da agremiação tentaram adotar um figurino intransigente.
Embora o slogan de sua propaganda política tenha sido o de uma oposição ao governo, e não ao Brasil, as atitudes do PSDB na Câmara representaram clara aposta no "quanto pior, melhor".
Apoiaram-se medidas contrárias ao ideário clássico da sigla, como a que determinou o fim do fator previdenciário –criação, afinal, do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Após vários acenos à irresponsabilidade fiscal e de alguns atos de açodamento retórico, o PSDB conheceu o irônico dissabor de acompanhar a divulgação de um texto propositivo lançado pelo PMDB, no qual a legenda que mais simboliza a fisiologia e a gastança cobriu-se com as plumas da contenção de gastos e da eficiência gerencial.
Sequestrado pela pressão pró-impeachment, pela aliança com Eduardo Cunha e pela aparente responsabilidade econômica do PMDB, o PSDB terminou sob uma tempestade doutrinária perfeita.
Em favor da ética, sustentava alguém flagrado com dinheiro suspeito no exterior; contra o petismo, seguia-lhe a antiga tese do "quanto pior, melhor"; contra o ajuste de Joaquim Levy, negava a política da era FHC. Na sede oposicionista, perdeu-se num discurso menos confiável que o do PMDB.
Era tempo de cair em si; em conjuntura tão móvel quanto a atual, não há como saber, porém, se conseguirá se manter a salvo das próprias ambiguidades e hesitações.
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