• Demora de seis anos levou Lula a perder dinheiro; MP desconfia da versão
Thiago Herdy - O Globo
- SÃO PAULO-. Ao desistir de comprar o tríplex do condomínio Solaris, no Guarujá, o ex-presidente Lula teve prejuízo de ao menos R$ 100 mil. Isso porque sua família demorou seis anos para optar pela devolução de valores investidos entre 2005 e 2009, quando os cooperados foram obrigados a decidir entre receber valores de volta ou pagar mais para ter o apartamento concluído pela empreiteira OAS.
Em nota divulgada domingo, o Instituto Lula informou que a ex- primeira dama assinou em novembro de 2015 termo concordando em receber R$ 188,2 mil de restituição, divididos em 36 parcelas de R$ 5.227,99. Com isso, a família do ex- presidente terá valores totalmente restituídos apenas ao final de 2018, o que aumenta o prejuízo estimado com o negócio.
A própria família de Lula calculou em R$ 286 mil o total investido pelo casal em uma unidade do edifício, se considerada a correção monetária até os dias atuais, o que permite chegar ao valor de prejuízo de quase R$ 100 mil, se considerada estimativa conservadora.
Investimento de R$ 777 mil
O Ministério Público de São Paulo suspeita que Lula usaria o crédito que tinha no Solaris para obter o tríplex 164- A do mesmo edifício, que teria sido submetido a reforma para atender ao ex-presidente, mas que ele desistiu após a revelação pelo GLOBO dos detalhes das intervenções da OAS. Apenas em móveis e equipamentos, a construtora teria gasto aproximadamente R$ 777 mil.
Em depoimento ao Ministério Público, o engenheiro Armando Dagre, sócio da Talento Construtora, disse que “praticamente” refez o tríplex 164- A, entre abril e setembro de 2014. Ele disse ter tido contato com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que visitava o local. Segundo ele, o contrato para reforma incluiu novo acabamento, uma outra piscina, mudança da escada e instalação de elevador privativo, que custou R$ 62,5 mil.
Em depoimento, dois funcionários do edifício — um zelador e uma funcionária da portaria — relataram ter visto Lula e a ex-primeira-dama visitando a reforma do apartamento. Anteontem, após evitar comentar os depoimentos, Lula admitiu ter visitado o apartamento ao lado do presidente da OAS, Léo Pinheiro, preso pela Lava- Jato.
Na nota divulgada domingo, Lula disse ter desistido de adquirir um imóvel no prédio, sob a alegação de que notícias divulgadas pela imprensa sobre o edifício teriam “rompido a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”. Na nota, o ex-presidente argumentou que os valores de reformas e modificações “naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra”, tese que o MP paulista questiona.
Pelo terceiro dia, O GLOBO perguntou à OAS por que ela permitiu que a família de Lula decidisse seis anos depois se ficaria ou não com um apartamento.
O prazo para fazer esta opção era 8 de novembro de 2009, exatos 30 dias depois da formalização da transferência do empreendimento da Bancoop para a OAS. A construtora não quis se manifestar.
No domingo, o Instituto Lula disse que adversários do ex-presidente e imprensa “tentam criar um escândalo a partir de invencionices”. Lula nega que era dono do tríplex e ressalva que quando a sua mulher se associou à Bancoop, em 2005, escolheu um apartamento comum do prédio e não o tríplex.
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