Por Cristiane Agostine – Valor Econômico
SÃO PAULO - As investigações da Operação Lava-Jato atingiram em cheio a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo pesquisa Ipsos divulgada ontem. De acordo com o levantamento, 25% dos entrevistados consideram que Lula é um político honesto. Durante o escândalo do mensalão, em 2005, eram 49%.
Dois terços do entrevistados (68%) pelo instituto acham que Lula não tem mais moral para falar de ética, ante 57% no mensalão. Na avaliação de 67%, o escândalo da Lava-Jato mostra que o ex-presidente é tão corrupto quanto os outros políticos. No mensalão, 49% tinham essa percepção.
Para o presidente do Ipsos, Cliff Young, a investigação sobre desvios na Petrobras reforçou o vínculo da imagem do ex-presidente à corrupção e teria tornado "inviável" uma eventual candidatura à Presidência em 2018. "A imagem de Lula está muito fragilizada", afirmou Young. Mesmo sem os escândalos, já seria difícil para o ex-presidente candidatar-se novamente, por conta da má avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff e do 'cansaço' com o PT, que está em sua quarta gestão na Presidência, na avaliação do presidente do instituto.
Para a pesquisa "Corrupção, PT e a Lava-Jato", foram ouvidas 1,2 mil pessoas em 72 municípios do país entre os dias 13 e 27 de janeiro. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
As denúncias envolvendo a Petrobras desgastaram não só o PT mas a imagem de todos os partidos, segundo a pesquisa: 82% consideram que a Lava-Jato está mostrando que todas as legendas são corruptas. Os mesmos 82% afirmam não ter uma legenda de preferência. Em 2002, eram 37%. A preferência pelo PT caiu de forma expressiva, de 28% em 2002 para 6% em 2016.
Na avaliação do presidente do Ipsos, a imagem do PT deixou de ser o do partido dos pobres para ser a da legenda dos corruptos. Segundo a pesquisa, o partido é considerado por 71% como mais corrupto que outras legendas. O levantamento mostra também que oito em cada dez entrevistados (82%) consideram que a sigla não tem mais moral para falar de ética. Em 2005, com o mensalão, 68% tinham essa percepção. Apenas 15% afirmam que o PT é um partido honesto - eram 27% em 2005.
O descontentamento com a gestão Dilma é forte: 92% dos entrevistados afirmam que o Brasil está no rumo errado e 79% avaliaram o governo como ruim ou péssimo. O impeachment da presidente tem apoio de 60%.
A pesquisa indica que quase todos os brasileiros têm conhecimento da Lava-Jato (94%) e nove em cada dez entrevistados não só apoiam a operação mas também acreditam que as investigações devem continuar "custe o que custar", apesar do impacto na economia. Quase metade (46%) tem a percepção que a apuração de desvios está piorando a situação econômica e de emprego no Brasil.
Apesar do apoio, há bastante receio em relação aos resultados. Ao serem questionados se vai "acabar em pizza", 46% concordaram, 31% discordaram e 23% não responderam. Por fim, 92% concordam com a afirmação de que "sempre vai existir corrupção no Brasil".
O presidente do Ipsos apontou os riscos para o sistema político com o enfraquecimento do PT e de Lula e o vácuo deixado pelo partido na centro-esquerda. "A questão é quem vai ocupar esse espaço. O grande risco no longo prazo é aparecer aventureiros, populistas. Há um espaço deixado agora, com um discurso populista de defesa dos mais pobres".
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