- O Estado de S. Paulo
2015 terminou com taxa média de desemprego (6,8%) superior à de 2014 (4,8%), que havia sido a mais baixa registrada pelo IBGE desde 2003. Examinando o comportamento do mercado de trabalho com os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), poder-se-ia concluir que a queda da economia brasileira só afetou o emprego em 2015. De fato, não obstante flutuações na variação do PIB ao longo dos anos, na série da PME as taxas médias anuais de desemprego caíram consistentemente de 2003 (12,3%) para 2014 (4,8%). A única exceção foi o leve aumento de 7,9% para 8,1%, de 2008 a 2009, quando a economia brasileira sofreu mais diretamente o impacto da crise financeira internacional.
Alguém menos atento poderia dizer que a crise na economia só começou em 2015. Aliás, durante a campanha de 2014, a candidata à reeleição usou e abusou dos índices de desemprego como evidência do sucesso de sua política econômica, afirmando ser o emprego a maior prioridade de seu governo e tudo o que fazia era para preservá-lo.
A aparente dissociação entre o desempenho da economia e do mercado de trabalho levou vários analistas a identificarem um possível paradoxo – queda simultânea da produção e do desemprego – quando a economia brasileira entrou em fase de desaceleração.
Os indicadores de desemprego no Brasil não são sensíveis às flutuações da economia pois, entre outros fatores, existe grande fluidez entre os setores formal e informal do mercado de trabalho. Parte dos trabalhadores demitidos se acomoda em atividades autônomas, cujo ajuste se faz pelo rendimento, e não pelo volume de vagas; daí as taxas de desemprego serem relativamente estáveis. Mas os dados do Caged, do Ministério do Trabalho, que registram os saldos de trabalhadores admitidos e demitidos mensalmente no setor formal, contam outra história.
De 2000 a 2003, quando a taxa média de variação do PIB foi de 2,5%, foram gerados 850 mil empregos formais por ano. De 2004 a 2007, esse número dobrou, resultando em saldo médio anual de 1.660 mil novos empregos, em linha com a expansão da economia, cuja média de crescimento no período foi de 4,8%. A crise internacional (2008-2009) reduziu ligeiramente a abertura de vagas no mercado formal de trabalho. E, quando o PIB cresceu 7,5%, em 2010, foram criados mais de 2.500 mil empregos, recorde na história do mercado de trabalho brasileiro.
A partir de 2011, contudo, com a queda nos preços de commodities e o esgotamento da expansão do consumo doméstico, a criação de empregos formais vem caindo anualmente. De 1.945 mil novos empregos criados em 2011, chegou-se, no fim de 2015, ao fechamento de mais de 1.500 mil postos de trabalho. Entre 2011 e 2015 foram abertas, em média, 644 mil novas vagas de emprego formal por ano, bem menos do que se abria de 2000 a 2003.
Os dados do Caged indicam, pois, que o mercado de trabalho formal responde às variações da demanda e vem mostrando o impacto da desaceleração da economia sobre o nível de emprego formal.
Os resultados negativos de 2014 (criação de só 398 mil novas vagas) e de 2015 (redução de 1.542 mil empregos) expõem o desastre da política econômica do governo Dilma sobre o mercado de trabalho.
E as perspectivas para a retomada do crescimento da economia e consequente criação de empregos não são nada positivas. O governo vive conflito interno sem precedentes entre suas convicções ideológicas e a realidade imposta pelo mercado. Sem um programa consistente, proposições parciais de ajuste fiscal, como as apresentadas na reunião do chamado Conselhão, não agradam ao partido da presidente e dificilmente obterão apoio no Congresso. Ademais, as investigações da Operação Lava Jato poderão paralisar mais ainda o governo.
Sem mudança nos rumos da política econômica, mais postos de trabalho serão fechados. Os trabalhadores, sem emprego, continuarão pagando a conta da incompetência do governo, ajeitando-se como podem nas atividades informais. Até quando?
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*Paulo Paiva é professor da Fundação Dom Cabral e foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento
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