- Folha de S. Paulo
Não há mulheres nem negros no ministério Temer. Isso é um problema? Para responder à pergunta, precisamos, antes de tudo, destrinchar a dualidade que marca a formação de gabinetes. A escolha dos ministros constitui, ao mesmo tempo, a indicação concreta de quais serão os administradores do governo e uma sinalização, para a sociedade, do comprometimento do mandatário para com causas, partidos e, se quisermos, um breve vislumbre de sua visão de mundo.
No que concerne à administração propriamente dita, é irrelevante se o ministro A ou B é mulher ou negro. O que importa é que seja um gestor competente e, ou tenha conhecimento da área, ou consiga cercar-se de bons quadros técnicos e delegar funções. Até onde se sabe, essas não são capacidades determinadas pelo sexo ou pela raça do indivíduo.
Já no quesito sinalização, Temer cometeu sua primeira gafe ao deixar de lado as minorias. Sujeito das antigas, pode não ter percebido que agora vivemos uma era de cotas, onde todos os grupos e temas devem estar representados, mesmo que o poder derivado dessa representação seja muito mais simbólico do que efetivo.
Uma explicação alternativa é que o presidente julgou ser mais importante apostar numa outra sinalização, a da austeridade, cortando significativamente o número de ministérios –medida cujo impacto econômico e administrativo também é muito mais simbólico do que efetivo. Foram para a zona da degola justamente as pastas que tornavam a demografia ministerial um pouco mais feminina e mais negra, como Igualdade Racial, Políticas para Mulheres, Direitos Humanos.
Dado que não haverá verbas para grandes projetos nesta gestão, Temer desperdiçou a única chance que teria de contentar o público dessas áreas. De todo modo, a missão de seu governo é outra. É começar a arrumar o estrago na economia. Se conseguir a metade disso, já estaremos no lucro.
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