• Em tons distintos, dirigentes defendem proposta ou a acham prematura
Maria Lima e Sílvia Amorim - O Globo
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Possibilidade já cogitada pelo presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), a realização de prévias para escolher o candidato tucano à Presidência em 2018, entre pelo menos cinco pretendentes que saem fortalecidos da disputa municipal, ainda não tem consenso entre os integrantes da Executiva Nacional do partido ouvidos pelo GLOBO. Há, porém, uma forte tendência de apoio à proposta.
Com a vitória maciça em São Paulo, não só na capital, o governador Geraldo Alckmin é o nome que mais ameaça a candidatura de Aécio, que saiu da eleição de 2014 fortalecido após uma disputa acirrada com a ex-presidente Dilma Rousseff no segundo turno.
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, corre por fora na disputa. Ele espera se fortalecer mostrando resultados no governo de coalizão que tenta arrumar a casa para o sucessor de Michel Temer.
Todos já anteveem uma queda de braço fora dos holofotes entre os dois. Aécio ainda depende do resultado, neste segundo turno das eleições, em Belo Horizonte e outras 11 grandes cidades e capitais para equilibrar a disputa.
FH: É PRECISO ORGANIZAR BEM
Desde domingo, após o primeiro turno em que os tucanos surpreenderam em todo o país, Aécio vem frisando que o PSDB, sob seu comando, se espraiou em regiões onde até agora não entrava, como o Nordeste, perdendo a cara de “partido paulista”. Antes das prévias, os dois caciques devem travar uma disputa para a eleição da nova Executiva, em maio, quando vence o mandato de Aécio.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, integrante mais influente da Executiva nacional, é favorável à realização de prévias no PSDB para escolher o candidato do partido em 2018. No entanto, demonstra preocupação com a capacidade de o partido organizar um processo como esse.
— Em princípio, havendo mais de um candidato, é melhor organizar prévias. O problema são as inscrições (filiações) partidárias, que nem sempre estão bem organizadas e atualizadas — disse FH.
O ex-presidente também fez uma alerta sobre filiações de “última hora”, que, segundo ele, devem ser impedidas para não prejudicar a igualdade de competição entre candidatos.
— É preciso marcar uma data final de filiação — sugeriu.
Para FH, outro ponto que deve ser analisado com cautela é o peso de cada estado na disputa interna, a fim de evitar distorções no resultado.
— E não faltará quem queira ponderar o peso dos estados, para evitar que a massa paulista, carioca ou mineira afogue os demais estados — alertou.
REGRAS PREOCUPAM TASSO
Como FH, o senador Tasso Jeiressatti (CE) defende as prévias, mas se preocupa com as regras da consulta interna.
— Defendo as prévias, mas o problema é definir logo regras claras para evitar o que houve em São Paulo, onde teve um racha. Esse negócio de quem está mais forte agora não conta. Tem muita água para correr debaixo da ponte até 2018 — afirma Tasso.
Aécio é um dos que mostram preocupados com a antecipação desse debate e seus efeitos na unidade partidária, no momento em que o PSDB disputa prefeituras no segundo turno.
— É um belo caminho (as prévias), desde que bem organizadas. É um processo que revitaliza um partido que não tem grandes e profundas discussões internas. E permite conhecimento maior das candidaturas. Nosso estatuto prevê as prévias. Devem ser vistas como uma oportunidade de um debate democrático. Tanto eu, o Geraldo e o Serra estimulamos esse debate. Pode ser um bom caminho, mas não neste momento. Não é correto nem justo anteciparmos 18 (2018). Estamos aqui comemorando 16 (2016) — disse Aécio, após o resultado do primeiro turno.
SERRA QUER REFORMA POLÍTICA
Serra disse que o foco do PSDB agora deve ser outro: concentrar esforços numa reforma política “de verdade”, com adoção do parlamentarismo e do voto distrital misto, em lugar do sistema proporcional na eleição de deputados federais.
— Objetivos difíceis? Claro que sim. Mas temos de forçar a ampliação dos limites do possível. Há uma segunda prioridade essencial: batalhar para que o governo Temer dê certo, pelo bem do país e das próprias forças políticas que apoiaram o impeachment. Essa é a mais importante condição para ganharmos as eleições de 2018 — defendeu Serra.
Outros integrantes da Executiva defendem, desde já, a realização das prévias.
— Sou a favor. Sempre defendi prévias como fator de democratização interna, estímulo e respeito à militância e aos filiados. Por uma questão de coerência e de princípios — disse o governador de Goiás, Marconi Perillo, outro nome na disputa para 2018.
Aliado de Marconi, o deputado federal Giuseppe Vecci (PSDB/GO), vice-presidente nacional do partido, apoia as prévias, mas acha prematuro tratar agora da eleição de 2018.
— Saímos fortalecidos de 2016 e temos ainda dois anos pela frente para continuar ganhando forças até a eleição presidencial. Ainda é muito cedo para realização de prévias sobre 2018 — diz Vecci.
Alckmin também vem defendendo, de forma enfática, as prévias. Procurado pelo GLOBO, não retornou.
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