Thais Bilenky – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A disputa em torno da permanência de Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado eleva a temperatura política ao evidenciar a falta de uma figura capaz de articular um pacto entre os Poderes, na visão do cientista político Carlos Melo.
Professor do Insper, ele diz que há um "colapso estrutural muito grave, não propriamente pelo conflito do dia". "A gente olha para a conjuntura, para Renan, para Temer, para Dilma, para Marco Aurélio Mello, quando na verdade há um problema muito mais sério", disse.
O aspecto mais deteriorado do "colapso" que o analista aponta é a fragilidade de lideranças políticas.
"O nosso sistema político deixou de funcionar. O tipo de financiamento de campanha e de políticos levou à Lava Jato e ao comprometimento de figuras importantes", observou Melo.
Ele apontou a eleição de 2018, antecedida de um debate profundo na sociedade sobre os problemas do país, como a saída estrutural. "Não adianta se afobar e querer resolver com impeachment de presidente ou o diabo que seja", defendeu.
Para analistas, não é o primeiro nem o último episódio de uma crise institucional escancarada na eleição de 2014, que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a uma guerra entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Com Congresso e Executivo absorvidos pela crise, o Judiciário desponta como intermediador, mas também falha.
"É assustador que o Judiciário seja hipersensível à opinião pública", afirmou o professor Fábio Wanderley Reis.
A exposição pública voluntária e o excesso de decisões individuais "ampliam o descontrole dentro do Supremo, ferem a legitimidade do tribunal e de seus ministros e contribuem para a instabilidade da relação entre os Poderes", disse Ivar Hartmann, professor de direito na Fundação Getulio Vargas no Rio.
Segundo ele, estabeleceu-se uma "busca por mais poder e da retaliação individualizada", como a recusa de Renan de acatar a ordem de Marco Aurélio Mello (STF).
"A liminar é apenas mais um de uma sucessão de erros institucionais e individuais. Renan e o Senado poderiam iniciar um debate sobre quais as mudanças institucionais necessárias no Supremo. O caminho escolhido foi outro: uma retaliação isolada, de cunho pessoalizado e plenamente ilegal", disse. Isso tudo "apenas piora a crise institucional".
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