- Folha de S. Paulo
A indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal deverá render um, dois meses de malhação pública para o presidente Michel Temer. Na álgebra do Palácio do Planalto, garantir um homem de confiança do peemedebista e de seus aliados na alta corte compensa algumas dúzias de vilipêndios em colunas e timelines. A depender da profusão do noticiário, em questão de dias o desgaste terá sido suplantado.
E afinal, qual o problema de escolher um político tucano, com verniz técnico, para a cadeira vaga do STF? Qual o desconforto em ver Gilmar Mendes pelos salões do Jaburu confabulando pelo nome de Moraes? O que há de suspeito em Renan Calheiros —que é réu no Supremo e ainda responde a oito inquéritos na Lava Jato— e a cúpula do Senado torcerem pelo ministro da Justiça?
Ora, com a substituição do relator morto Teori Zavascki pelo discreto Edson Fachin, Temer não ficou livre, leve e solto para indicar o novo integrante do tribunal sem ser censurado por influenciar nos rumos da investigação?
O enredo todo soaria menos estranho se há cinco dias o presidente não tivesse assegurado ao amigo Moreira Franco —citado 34 vezes por um delator da Odebrecht— espaço VIP em seu ministério. Com a manobra, o gestor do programa de concessões recebeu mais que um crachá oficial para desempenhar funções que de fato já exercia na Esplanada.
Moreira ganhou a proteção do foro privilegiado na mesma semana em que as 77 delações do "fim do mundo" foram homologadas pela ministra Cármen Lúcia.
Caberá agora ao próprio STF julgar se a tacada de Temer não foi um repeteco do episódio "Bessias", quando a ex-presidente Dilma Rousseff nomeou Lula para a Casa Civil e foi acusada de tentar livrá-lo de uma possível prisão.
Poderá ser a primeira oportunidade para Moraes dar uma força para Moreira.
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