- O Estado de S. Paulo
• Economia dá sinais de que se aproxima do piso, mas ainda não indica tendências
Depois de apresentar primeiros indícios de chegada ao fundo do poço ainda no segundo trimestre de 2016, a economia brasileira experimentou alguns repiques negativos no restante do ano, mas voltou a emitir sinais, na virada do calendário para 2017, de que se encontrava perto de um piso do qual não mais encontraria espaço para novos retrocessos. A perspectiva de que a longa e profunda recessão iniciada no primeiro semestre de 2014 esteja se aproximando do fim, contudo, não significa que todos os segmentos econômicos já registrem indicações de retomada.
É típico desses momentos, na verdade, que alguns setores mostrem recuperação enquanto outros permanecem em queda. Mesmo dentro de um mesmo setor, dependendo da base de comparação, os números podem revelar direções temporariamente opostas. O avanço em relação ao mês anterior pode vir acompanhado de recuos na comparação interanual ou no acumulado em 12 meses.
Deve-se, nessas situações, portanto, evitar a tentativa de extrair a tendência da economia como um todo dos movimentos curtos da conjuntura setorial. É o caso da indústria automobilística, setor-chave na definição dos rumos da produção industrial. A produção de veículos, em base dessazonalizada, subiu 15,4% em dezembro, na comparação mensal, e recuou 14,5% em janeiro. Com queda nas vendas, principalmente de automóveis e de caminhões, nos últimos três meses, e aumento forte nas exportações, o setor viu seus estoques voltarem a subir, no primeiro mês do ano.
Isso não quer dizer que o setor automobilístico não possa apresentar recuperação ao longo do ano. Mas quer dizer que o salto de dezembro não representava uma tendência, assim como a marcha à ré em janeiro não aponta uma direção. Nas circunstâncias atuais, indicadores isolados, sobretudo os que registram variações mensais, para cima ou para baixo, não permitem determinar a direção da economia.
Apesar disso e mesmo sob o risco de frustrações à frente, é fácil captar a formação de uma nova onda de otimismo. A inflação em baixa acelerada, finalmente em resposta à recessão profunda, abrindo espaços para um ciclo mais agressivo de cortes nos juros básicos, com expectativa de que estes fechem o ano abaixo de 10%, está na base dessa onda.
A partir da sensação de melhora do poder aquisitivo, com o bom comportamento dos preços, em especial os de alimentos, e do horizonte de taxas de juros menos salgadas, índices de confiança, de consumidores e empresários, depois da queda com origem na decepção com a marcha da economia no último trimestre de 2016, voltaram a subir.
Aproveitando o momento favorável, inclusive na esfera política, com a eleição de aliados para a direção do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, o governo reforçou a onda, prometendo, de um lado, acelerar o passo das reformas da Previdência e das leis trabalhistas no Congresso, com o que anima a base de apoio empresarial, e, de outro, acenando com medidas visando destravar o cotidiano burocrático da classe média.
Remanescem, porém, enormes dificuldades para relançar a economia num ciclo de crescimento mais robusto e consistente. Aí estão, para começar, alguns eventos ainda imprevisíveis, caso dos impactos globais e locais da forma como Donald Trump conduzirá a economia americana, e, no plano doméstico, do desenrolar da Lava Jato e de decisões do Judiciário.
Além dessas incógnitas, também não estão equacionados pelo menos dois elementos críticos quando se pensa no relançamento da economia em bases mais duradouras. São eles o desemprego e o endividamento de famílias e empresas. O primeiro ainda deve aumentar antes de começar a ceder, afetando, negativamente, o consumo. Já a lenta redução das dívidas, principalmente nas empresas, mesmo com juros menores, tende a jogar mais para a frente a retomada dos investimentos.
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