Nos próximos dias 23 de abril (primeiro turno) e 7 de maio (segundo turno), os franceses escolherão o novo presidente, num pleito crucial para o destino da União Europeia. Segunda maior economia do bloco, o país vai dividido às urnas, com forças radicais à esquerda e à direita com chances reais de chegar ao Palácio do Eliseu. Na disputa, estão em confronto projetos que, de um lado, aprofundam a integração europeia e internacional; e, de outro, propostas nacionalistas de cunho populista, que, entre outras coisas, defendem a desintegração da UE e o fechamento de fronteiras a imigrantes.
O representante da direita convencional, François Fillon, do Partido Republicano, liderava com relativa folga as intenções de voto, com um projeto de reforma fiscal e a promessa de recolocar a França no caminho do crescimento sustentável. Mas a candidatura despencou após o escândalo, em que é acusado de oferecer à mulher, Pénélope, um emprego fantasma e aos filhos, trabalhos eventuais — não executados —, o que teria rendido à família cerca de € 900 mil.
Sua queda acabou favorecendo os demais candidatos, especialmente a representante do partido de extrema direita Frente Nacional, Marine Le Pen, líder nas intenções de votos no primeiro turno. Também gerou uma discussão interna sobre a possível substituição de Fillon como candidato do Partido Republicano.
No último domingo, Le Pen formalizou sua plataforma, prometendo, entre outras coisas, fechar as fronteiras da França a estrangeiros e iniciar o processo de retirada do país da UE, num processo similar ao Brexit britânico. “A globalização é minha inimiga”, disse ela, colocando no mesmo rol de problemas do país as finanças globais e o radicalismo islâmico, ameaças, que, segundo ela, vão “levar ao desaparecimento da França”.
Pesquisa do grupo BVA, divulgada no sábado, mostra Le Pen com 25% das intenções de voto no primeiro turno, seguida do candidato independente Emmanuel Macron, com 21% a 22%; Fillon com 20%; o candidato socialista, Benoît Hamon, com 16% a 17%; e o candidato da extrema-esquerda, Jean-Luc Melenchon, com 11% a 11,5%. No segundo turno, porém, o quadro se inverte, e Macron bate Le Pen, por 66% a 34%. O postulante independente, porém, ainda não detalhou sua plataforma de governo, o que deve ocorrer esta semana.
O debate eleitoral tem sido a economia, sobretudo a questão do desemprego. Mas os problemas do país não vão desaparecer com culpados inventados a partir de visões distorcidas da realidade. A França não pode mais continuar adiando reformas estruturais. O futuro presidente deve mirar o exemplo de parceiros europeus, como Portugal e Espanha, que tomaram medidas duras e hoje colhem os frutos de um crescimento sustentável. Mas a questão crucial é se a França irá seguir sua tradição iluminista e apostar em valores da civilização Ocidental, ou sucumbirá ao mais tacanho nacional-populismo.
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