terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Eleições complicam retomada no Brasil, México e Colômbia

Marsílea Gombata | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ano de 2018 será de grande incerteza para a América Latina. Eleições presidenciais em três importantes economias - Brasil, México e Colômbia - estão marcadas por escândalos de corrupção e falta de legitimidade política. O nebuloso cenário adiante pode atrapalhar o ritmo da retomada da economia, dizem analistas.

Os três países vivenciaram em outros momentos crises internas, às vezes acompanhadas de um cenário externo pouco favorável. Mas o que faz este ano ser especialmente complicado é o fato de esses países enfrentarem ao mesmo tempo crises dentro de casa, eleições e um cenário econômico que custa a se recuperar. Paraguai e Venezuela também terão eleições este ano, mas em situações muito particulares, seja pelo bom desempenho econômico paraguaio ou pela pior crise da história recente da Venezuela.

"Brasil, Colômbia e México vivem uma tormenta perfeita: a situação econômica ainda não é boa, o cenário externo é alimentado por incertezas como [o presidente americano] Donald Trump, e os rumos de política doméstica de cada um ainda não estão claros", afirma Sergio Guzmán, da consultoria Control Risks. "Vemos um eleitorado cansado da política tradicional, irritado com os altos níveis de corrupção e um déficit de representatividade, em que as pessoas não sentem que os governos defendem seus interesses."

Há desencanto com a classe política em toda a região, mas nesses três países o nível de descontentamento é especialmente alto, avalia Carlos Petersen, da Eurasia.

No México, por exemplo, escândalos de corrupção do governo do presidente Enrique Peña Nieto - alguns envolvendo a Odebrecht - somam-se ao baixo crescimento econômico (2,1% em 2017 e 2,2% este ano) e ao aumento da insegurança, o que levará o mexicano a buscar mudança nas eleições de julho. Isso abre espaço para figuras não convencionais que às vezes assustam o mercado, como o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, favorito nas pesquisas de intenção de voto, observa Petersen.

No caso da Colômbia, as mudanças que a eleição pode trazer devem ser menos bruscas, avalia Petersen. "As suspeitas de corrupção no governo e oposição abrem caminho para figuras como Timochenko, das Farc, ou Carlos Petro, visto com ressalvas pelo mercado", diz. "Mas a tendência é que vença um candidato mais tradicional, apoiado pelo presidente Juan Manuel Santos ou pelo ex-presidente Álvaro Uribe."

Angelika Rettberg, da Universidade de Los Andes, em Bogotá, também prevê continuidade. "Há mais preocupação em manter as conquistas do processo de paz e preservar um modelo econômico que existe há anos, qualquer que seja a força política no poder", diz, ao lembrar que o país deve crescer 1,7% em 2017 e 2,6% em 2018. "A eleição deve confirmar que a Colômbia é um país onde as elites se entendem e evitam grandes mudanças."

No Brasil, a lenta recuperação econômica, os 5% de aprovação do presidente Michel Temer e a sequência de casos de corrupção envolvendo os principais partidos políticos também abrem espaço para candidatos antiestablishment, como Jair Bolsonaro. "A grande dúvida é se até as eleições de outubro surgirá algum candidato capaz de levar adiante uma agenda de reformas e também responder às demandas por mudança", diz Petersen.

Pesquisa Latinobarómetro, divulgada em 30 de novembro, mostra que o Brasil ocupa a última posição no ranking de satisfação com a democracia, com somente 13% dos entrevistados satisfeitos. No México, esse percentual é de 18%, e na Colômbia, de 17%.

A consulta indica ainda que o total de pessoas na América Latina para as quais tanto faz viver em uma democracia ou em um regime totalitário cresceu de 23% para 25% no último ano. O México foi o país onde mais houve perda de apoio à democracia. Hoje 38% dos mexicanos creem que a "democracia é preferível" a um regime autoritário. Há um ano, eram 48%.

Apesar de a corrupção aparecer como o terceiro principal problema do país para os mexicanos - enquanto para brasileiros e colombianos está em primeiro lugar - o economista Manuel Molano, do Instituto Mexicano para a Competitividade, acredita que a corrupção dominará a campanha.

"Acredito que para o eleitor médio o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI, de Peña Nieto) tem mais possibilidade de guiar o país a uma recuperação econômica, mas não de dar fim à corrupção", afirma Molano. López Obrador, ele ressalta, se posiciona como o candidato anticorrupção, mas é ambíguo em temas econômicos. "Ele promete reduzir o gasto público, mas também fala em subsídios e políticas contra a pobreza que aumentariam esse gasto. Temo que seu governo seja um retrocesso para a competitividade mexicana."

A campanha no México também será marcada pela incerteza em relação à renegociação do Acordo de Livre Comércio Norte-Americano (Nafta). Relatório da consultoria FocusEconomics afirma que tanto as eleições presidenciais quanto o alto nível de incerteza em torno do Nafta serão entraves importantes a uma recuperação econômica completa do país.

Para o economista Carlos Ferrari, da Universidade Javeriana, em Bogotá, se as negociações entre Estados Unidos, México e Canadá fracassarem, o risco de um efeito dominó é grande. "A maior incerteza que ameaça o futuro da região é externa", diz. "Se prosperar a intenção de Trump de isolar os EUA, não apenas o México sofrerá, mas todos os outros países com os quais os EUA têm acordo de livre comércio. A Colômbia, por exemplo, deveria se preocupar."

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