- Folha de S. Paulo
A tragédia ora estancada pelas tropas federais no Rio Grande do Norte é um prenúncio sobre desafio central a ser enfrentado neste ano eleitoral decisivo de 2018.
É de se especular se o sangue dos quase cem cadáveres produzidos durante a greve da polícia local alertou as autoridades sobre o óbvio: o colapso do sistema federativo de 1988.
A partir dali, o Brasil visou dividir o poder central com Estados e municípios, só que isso não foi seguido por um enxugamento da União –como atesta o deficit multibilionário que o país gira em seu Orçamento.
Uma olhada nas contas estaduais mostra que o Rio de Janeiro é apenas um laboratório extremo à espera de replicações. O que levou ao surto de, é preciso deixar claro, irresponsabilidade dos policiais potiguares não foi só vontade de pular ondinha no Réveillon: o Estado está quebrado.
É assim por toda a Federação, sendo preciso lidar com problemas que começam nas Previdências e se espraiam pela estrutura tributária.
Há bizarrices de gestão. A segurança não precisa de um ministério, ela carece de estruturas nacionalizadas que integrem polícias, forças federais e órgãos de inteligência.
O crime não respeita fronteiras, quanto mais estaduais. Enquanto cada governador for um senhor feudal, esse novo pacto não será possível.
Isso não significa repetir o padrão pós-1988 de inchaço de instâncias. O combate é na ponta, com polícias bem equipadas e pagas. À União caberia a coordenação das tarefas.
Uma agenda ampla, que inclua pacote reformista claro e exequível, deveria estar na agenda de todo candidato sério a presidente. Em linguagem de gente, algo que é até fácil nos casos da segurança e da saúde, setor no qual a recente delegação de gasto de verbas às autoridades locais é uma medida na direção correta.
Claro que é pedir demais racionalidade no ambiente e com os protagonistas que temos. Mas a tarefa, que é coisa para talvez décadas, precisa ser iniciada em algum momento.
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