Governador da Bahia reclama de perseguição do presidente e diz que quer governar em paz
Por Cristiane Agostine e Malu Delgado | Valor Econômico
SÃO PAULO - Em carta divulgada ontem, 20 governadores criticaram o presidente Jair Bolsonaro por tentar vincular a morte do miliciano Adriano da Nóbrega ao PT e ao governo da Bahia, comandado pelo petista Rui Costa. No documento, os governadores afirmaram que Bolsonaro assumiu uma postura de embate contra os Estados e reclamaram também da falta de diálogo sobre a reforma tributária.
Os governadores de 19 Estados e do Distrito Federal cobraram do governo federal respeito aos “limites institucionais”, disseram que a atuação de Bolsonaro não contribui com a democracia e pediram ao governo federal “equilíbrio, sensatez e diálogo”.
“Recentes declarações do presidente da República Jair Bolsonaro confrontando governadores, ora envolvendo a necessidade de reforma tributária, sem expressamente abordar o tema, mas apenas desafiando governadores a reduzir impostos vitais para a sobrevivência dos Estados, ora se antecipando a investigações policiais para atribuir fatos graves à conduta das polícias e de seus governadores, não contribuem para a evolução da democracia no Brasil”, afirmaram os 20 signatários da “Carta dos governadores em defesa do pacto federativo”.
O documento é uma resposta às declarações do presidente sobre a morte de Adriano da Nóbrega, ex-capitão da PM ligado ao ex-deputado e senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ). No sábado, ao falar pela primeira vez publicamente sobre a morte de Nóbrega, Bolsonaro disse que a PM da Bahia é a responsável pela “execução sumária” do miliciano e indicou que houve “queima de arquivo” pelo governo baiano. O presidente afirmou ainda que o governador Rui Costa é amigo de bandidos condenados e citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O miliciano foi alvo de operação que envolveu as polícias baiana e fluminense, estava foragido e foi morto no dia 9, em Esplanada, no interior da Bahia. Nóbrega era suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais e de atuar com jogo do bicho e máquinas caça-níqueis. O ex-capitão da PM foi citado na investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro, que apura se houve um esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando o filho do presidente e atual senador era deputado estadual. Segundo o MP-RJ, as contas de Nóbrega foram usadas para transferir recursos ilícitos a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio e suspeito de comandar um esquema de desvio de dinheiro público. O miliciano foi condecorado por Flávio com a mais alta honraria da Assembleia do Rio.
Signatário da carta e alvo das críticas de Bolsonaro, o governador da Bahia cobrou ontem respeito do presidente. Em uma edição especial das transmissões ao vivo que faz nas redes sociais, Costa citou a reportagem sobre a morte do miliciano que foi veiculada no “Fantástico”, no domingo. “Durante cinco anos e quase dois meses eu tenho governado com muita serenidade, parcimônia, evitando o disse-me-disse da política. Mas não abro mão de defender a Bahia e os baianos”, afirmou o governador.
Sem citar nenhum detalhe do episódio e da operação que culminou na morte de Nóbrega, o governador da Bahia afirmou: “Quero governar em paz”. “Se quer perseguir a Bahia, se não quer ajudar, pelo menos me permita governar em paz.” Segundo Costa, o governo federal tem uma dívida de R$ 400 milhões com o Estado, pelo fato de o Ministério da Saúde se recusar a credenciar novos hospitais.
Costa mencionou, ainda, que governadores cobram de Bolsonaro o respeito à democracia e ao pacto federativo. “Que o presidente da República pare de agredir prefeitos, governadores”, afirmou. Segundo o petista, os governadores querem ser chamados pela Presidência para discutir problemas relevantes do país, como o desemprego e a desigualdade social, “e não serem agredidos de forma permanente e regular”.
A carta divulgada ontem, do qual Costa é um dos signatários, não foi assinada pelos governadores Ronaldo Caiado (DEM- GO), Mauro Mendes (DEM-MT), Mauro Carlesse (DEM-TO). Carlos Moisés (PSL-SC), Ratinho Júnior (PSD-PR), Marcos Rocha (PSL-RO) e Antonio Denarium (PSL-RR).
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