Folha de S. Paulo
Direita não bolsonarista preserva ex-juiz
como opção, mas ninguém grande aderiu à sua candidatura até agora
Na semana passada o site O
Antagonista publicou um texto do jornalista Cláudio Dantas
especulando sobre a possibilidade de Sergio Moro desistir
de sua candidatura presidencial para se candidatar a deputado federal.
O Antagonista sempre funcionou como
porta-voz de Moro, o que criou a sensação de que o próprio ex-juiz quis que a
ideia circulasse.
Se era para desistir tão cedo, por que Moro
se lançou candidato?
Se esperava uma grande onda nacional que o
levasse à liderança das pesquisas, leu muito errado a situação política. A onda
da Lava
Jato foi em 2018. Moro apoiou Bolsonaro. Deu nisso aí. Como diria a
voz da consciência do apresentador
Monark, "achou que ia acontecer o quê?".
O mais provável é que Moro esperasse um número maior de apoios políticos. A chamada "terceira via" é a centro-direita brigando para tomar de Bolsonaro a liderança do campo conservador.
Moro esperava que, a essa altura,
empresários, líderes religiosos e, sobretudo, líderes dos partidos de
centro-direita estivessem entusiasmados com sua candidatura. Isso não
aconteceu.
A direita não bolsonarista vem preservando
Moro como opção, mas ninguém grande aderiu à sua candidatura até agora.
E a decisão de apostar errado as fichas
políticas da Lava Jato está cobrando seu preço.
O que havia de movimento político em volta
da operação até 2018 foi engolido pelo bolsonarismo. Isso quer dizer que Moro
precisa ser candidato por um dos partidos que já existiam antes da Lava Jato,
mesmo se com nome diferente.
O Podemos,
por exemplo, era o PTN, e já começou bem roubando o nome de um partido de
esquerda espanhol.
Também é possível que Moro tenha percebido
uma articulação forte em torno de outra candidatura de "terceira
via", o que lhe tiraria toda e qualquer chance de não dar vexame na
eleição. Mas que articulação seria essa?
Os tucanos estão fazendo o bonito de
sempre. Ninguém sabe quem será o anti-Lula, mas o anti-Doria já sabemos que
será o próprio PSDB. Há uma conspiração de tucanos para derrubar a candidatura
do governador de São Paulo acontecendo em plena luz do dia.
Se o plano for lançar Eduardo
Leite, é difícil pensar em um início pior de campanha: "Vote em mim,
eu fiz uma mutreta pra derrubar o cara que ia ser candidato antes". A
propósito, ministro Queiroga, isso é um diálogo hipotético, não escreva para
a Folha de
novo reclamando.
Outra alternativa para os tucanos rebelados
seria levar o partido para outra candidatura, como a da senadora
Simone Tebet, do MDB.
Ainda não sabemos o quão para valer é
a candidatura
de Tebet.
A senadora é um nome forte, teve grande atuação na CPI da
pandemia e é boa debatedora e articuladora capaz.
Por outro lado, quantos candidatos o MDB
lançou nas últimas décadas só para abandoná-los e apoiar o líder das pesquisas?
É mais fácil responder assim: com qual candidato do MDB isso não aconteceu?
Enfim, o que Moro está descobrindo é que,
depois que as energias políticas da Lava Jato foram canalizadas para o
bolsonarismo, a "velha política" sobreviveu, mas os partidos de
direita melhorzinhos se deram mal.
Se Moro quer um partido grande, que tenha
preservado sua estrutura nos últimos anos e, mesmo tendo tido esquemas, nunca
tenha sido só um esquema, não vai ter jeito: terá que disputar as prévias do PT
com Lula.
Um comentário:
O conservadorismo civilizado não tem chance no Brasil,pelo menos até o momento.
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