Folha de S. Paulo
Para eles, o liberalismo destrói a
identidade etnocultural dos grupos
Hoje recomendo um livro de terror: "A World After Liberalism", de Matthew Rose. É brincadeira, mas é
sério. É brincadeira porque "A World..." não se encaixa bem no gênero
terror se o pensarmos como a categoria literária a que pertencem
"Frankenstein", "O Médico e o Monstro" e
"Drácula". "A World..." não é uma peça de ficção, e sim uma
coleção de pequenos ensaios que ficam entre o jornalístico e o sociológico. Mas
é sério porque o livro de Rose, até mais do que os clássicos citados, mete
medo.
Rose mostra que, por trás das sandices e dos impropérios lançados por militantes em redes sociais, existe um pensamento de extrema direita mais consistente e mais profundo. Ele perfila cinco autores que foram responsáveis por lançar algumas dessas ideias: Oswald Spengler, Julius Evola, Francis Parker Yockey, Alain Benoist e Samuel Francis. Confesso que conhecia minimamente Spengler, já tinha ouvido falar em Evola e ignorava os outros três.
São bem desiguais. Alguns se destacam pelo
racismo, outros pelo nacionalismo, outros pelo antiglobalismo. O que há de
comum entre eles é a ideia, mais radical, de que o liberalismo é um mal, não só
na prática, ao encorajar o hedonismo e o egoísmo, mas também no nível moral.
Na visão deles, o liberalismo, cujos
pilares teóricos são a igualdade diante da lei, os direitos das minorias, a
tolerância e o pluralismo, destrói os verdadeiros fundamentos da ordem social,
que está calcada na identidade etnocultural do grupo, da qual o indivíduo não
pode sair sem negar a si mesmo.
Não devemos, obviamente, imaginar que os
Bolsonaros e seus símiles tenham estudado a fundo esses autores (ou qualquer
outra coisa). O ponto é que, apesar de permanecerem em grande parte
desconhecidos, eles colocaram no mercado a ideia de que as crenças liberais são
nefastas e existe uma alternativa a elas baseada em noções como povo, pátria e
deus. E isso é bastante assustador.
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