O Estado de S. Paulo
Os escândalos do MEC estão na ‘alma’, mas
também no ‘coração’ do governo
Ao premiar Ciro Nogueira com a Casa Civil, o
presidente Jair Bolsonaro admitiu que estava
entregando “a alma do governo” ao Centrão, o que poderia ser confundido,
maldosamente, com “vender a alma ao diabo”. Assim como o “gabinete paralelo” do
Ministério da Saúde operava dentro do Planalto para compra de vacinas, o
“gabinete oculto” do FNDE e o “do culto” do MEC estão na “alma do governo”.
A bem da verdade, os dois escândalos estão na alma, mas também no coração do governo: na Casa Civil e no gabinete do presidente. O Planalto abriu as portas 35 vezes para os pastores que participavam de reuniões, desfilavam em aviões da FAB, achacavam prefeitos e, conforme o ex-ministro Milton Ribeiro à PF, foi Bolsonaro quem pôs
Na pandemia, Bolsonaro lavou as mãos para
as mortes, combateu isolamento, máscara e vacinas em favor da cloroquina e
ignorou as denúncias feitas - com provas - pelos irmãos Luís e Luís Ricardo Miranda sobre negociatas da
Covaxin.
O grande jornalista Clóvis Rossi, morto em
2019, dizia que o ex-presidente Lula era
“inimputável”, porque, fizesse o que fizesse, passava sempre ileso pelos erros
do seu governo e do seu partido. Até ser preso pela Lava Jato, que sofreu grande
reviravolta e hoje é amplamente questionada.
Não fosse a prisão, o Brasil viveria hoje
uma polarização entre “inimputáveis”, já que Bolsonaro faz e diz os maiores
absurdos e milhões acham normal. Os 660 mil mortos de covid, a Amazônia em
chamas, o desmanche de Saúde, Educação, Cultura, Ambiente e política externa?
Não são com ele.
E daí o jet ski no dia dos 10 mil mortos e
depois com a Bahia afundada em dor e lama? A intervenção na PF, Receita e Coaf
para blindar a família? O assalto ao MEC e, na Sexta-feira Santa, a óbvia
campanha antecipada e o abuso de autoridade ao mandar interditar, nada mais,
nada menos, a Rodovia dos Bandeirantes para motociata eleitoral?
O PT queimou seus principais quadros e caiu
na esparrela de Dilma Rousseff para tentar
preservar seu grande líder Lula. Hoje, Bolsonaro joga Ribeiro, Eduardo
Pazuello, Ricardo Salles, Ernesto Araújo e Abraham Weintraub ao mar para se
liberar para jet ski, moto, campanha e férias. Nenhum deles é para Bolsonaro o
que José Dirceu é para o PT, mas têm identidade ideológica com Bolsonaro.
E o que falar de Ciro Nogueira, a “alma do
governo”? Sem ideologia nenhuma, ele foi aliado de Lula e chamou Bolsonaro de
“fascista”, mas inverteu as coisas e vai dividir a culpa do MEC com Ribeiro,
porque Bolsonaro não governa e é “inimputável”. Messias é um santo.
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