O Globo
O diretório nacional do PT aprovou com
folga a escolha de Geraldo Alckmin como vice de Lula. A votação desta quarta
removeu a última pendência para a união entre os antigos adversários. Falta
definir como o ex-tucano vai influir na campanha e no programa de governo.
O petista quer apresentar a chapa como uma
frente ampla contra o bolsonarismo. “Não sou só o candidato do PT. Quero ser o
candidato de um movimento de recuperação da democracia”, afirmou, em fevereiro.
O problema é que uma frente ampla exige
mais que um vice conservador. Lula precisa atrair setores que se desiludiram
com Jair Bolsonaro e não acreditam na tal terceira via, mas ainda torcem o
nariz para a ideia de votar no PT.
“O campo vermelho da sociedade já está com
Lula. Agora temos que abrir conversas com o campo azul”, defende o líder da
oposição no Senado, Randolfe Rodrigues.
Convidado a integrar a coordenação da campanha petista, o senador da Rede prega o diálogo com grupos que aderiram ao capitão em 2018. “Alckmin é um símbolo importante, mas não fará a frente ampla sozinho. Temos que furar as bolhas do agronegócio, dos evangélicos, dos empresários. Se não tirarmos votos do Bolsonaro, vamos perder a eleição”, alerta.
Para conquistar apoios no “campo azul”,
Randolfe sustenta que Lula não deve apresentar um “programa de esquerda”. “Ele
vai precisar de um programa de união nacional”, afirma. Segundo essa lógica, as
propostas para a educação não poderiam ser redigidas apenas por intelectuais
alinhados ao PT. “Temos que ouvir movimentos como o Todos pela Educação, que
tem uma visão mais liberal”, exemplifica.
Na quinta-feira, a dupla Lula-Alckmin fez
sua primeira dobradinha no palanque. Em ato com sindicalistas, o petista
repetiu promessas para o “campo vermelho”, como rever a reforma trabalhista e
retomar a política de valorização real do salário mínimo. Ele ressalvou que não
pretende fazer nada “na marra”. “Este país vai voltar a ter um governo que
conversa com todo mundo e que busca a solução através da negociação”,
discursou.
A aliança com o ex-tucano ajuda a dissipar
os temores de que Lula faria um governo radical — algo que nunca ocorreu em
seus oito anos no poder. No palanque, o petista sugeriu que Alckmin poderá
representá-lo em negociações entre patrões e empregados. É um começo, mas ainda
não parece suficiente para justificar sua presença na chapa.
Ninguém deve esperar que o Partido dos
Trabalhadores abra mão de representar os interesses do mundo do trabalho. Cabe
a Alckmin convencer os novos aliados a também abraçar causas simpáticas ao
mundo do capital, como o estímulo à competitividade e à desburocratização.
Outro desafio da chapa é combinar a
retórica do candidato com o ideário do vice. No ato de quinta, o petista
arrancou aplausos ao ironizar um dogma do discurso liberal. “Toda vez que eles
falam em reforma, é para destruir alguma coisa que o trabalhador ganhou”,
provocou.
Depois de décadas entre os azuis, o
“companheiro Alckmin” pareceu empenhado em agradar os vermelhos. Em tom
exaltado, ele abandonou o estilo “picolé de chuchu”, elogiou a luta sindical e
bradou que Lula é o “maior líder popular do país”.
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