O Globo / Folha de S. Paulo
O pessoal que busca o candidato que evitará
a polarização Bolsonaro x Lula pratica um jogo de cubos que até agora rendeu
noticiário, e só
Quatro partidos buscam um candidato de consenso
para marcharem unidos na eleição presidencial. Parece piada. Consenso em
relação a quê? O PSDB fez uma prévia vencida pelo governador João Doria. O MDB
tem uma candidata na rua e boa parte de sua caciquia na sala dos jantares de
Lula. O União Brasil (ex-DEM, ex-PFL. Ex-PDS e ex-Arena) tem no doutor Luciano
Bivar um candidato de fantasia.
Doria ganhou a prévia, mas Eduardo Leite
não saiu do páreo. Simone Tebet sabe, desde o primeiro momento, que suas
dificuldades estão numa caciquia que não pretende descolar de Lula. Cada um dos
candidatos da terceira via não tem consenso a começar no próprio partido.
Isso não se deve à falta de conversas. É
por falta de ideias que seus candidatos não conseguem chegar ao segundo dígito.
O país parece estar saindo de uma pandemia que matou mais de 600 mil pessoas,
na qual milhões foram salvas pelo SUS. Os planos de saúde ameaçam com um
aumento histórico. No início da pandemia, recusaram-se a cobrir os custos de
testes. Alguém ouviu uma palavra dos candidatos da terceira via sobre a saúde
pública? Inflação? Desemprego?
O pessoal que busca o candidato que evitará
a polarização Bolsonaro x Lula pratica um jogo de cubos que até agora rendeu
noticiário, e só. Isso está estatisticamente demonstrado pelas pesquisas. Não
falam para o andar de baixo, e quem vive nele não mostra interesse pelas suas
ilustres figuras. Lula e Bolsonaro têm penetração no andar de baixo, cada um à
sua maneira, e por isso a eleição está polarizada.
Até meados de maio a turma da terceira via e do consenso buscará um sabor comum a dois punhados de areia, um pedaço de melancia e meio bife. Podem até se unir em torno de um candidato que cresça, mas dificilmente irão juntos até a eleição.
A desdita de Moro é um exemplo
Em 2004, o juiz Sergio Moro escreveu um artigo
louvando a ação da magistratura italiana com a Operação Mãos Limpas. Viu nela
“uma das mais exitosas cruzadas judiciárias contra a corrupção política e
administrativa”. De fato, a faxina da “Mani Pulite” gerou um hiato histriônico
com o governo de Silvio Berlusconi, mas a política italiana hoje tem Mario
Draghi como primeiro-ministro e Sergio Mattarella como presidente. Dois homens
limpos.
Dez anos depois de a publicação do artigo,
Moro tornou-se o centro da Operação Lava-Jato. Patrocinou a maior faxina da
História e o maior desastre sofrido pela bandeira da moralidade. Fez isso
tropeçando em diversos episódios e em duas desastrosas oportunidades. A
primeira, dias antes do primeiro turno de 2018, quando divulgou a
escalafobética colaboração do comissário petista Antonio Palocci. A segunda,
confirmando a primeira, quando aceitou o cargo de ministro da Justiça no
governo de Jair Bolsonaro.
Pulou da magistratura para o governo e dele
para a política. Nela, foi para o Podemos como candidato à Presidência. Pulou
do Podemos para o União Brasil. Enfurecia-se quando ouvia que poderia desistir
da disputa. Queria ser presidente, topou disputar o Senado e acabou conformando-se
na posição de puxador de votos na chapa de candidatos a deputado federal. Em
2018 essa posição foi ocupada, com sucesso, por Eduardo Bolsonaro. Ele
conseguiu 1,8 milhão de votos.
A desdita de Moro é um exemplo para quem
sonha, ou diz que sonha, ser um salvador da Pátria.
Lição japonesa
Enquanto um pedaço da casa real inglesa
vive atolada em fofocas e banalidades, a monarquia japonesa dá mais uma lição
de serenidade ao andar de cima mundial.
A princesa Mako, sobrinha do imperador
Naruhito, decidiu casar com um plebeu, dispensou as mordomias de seu título,
virou Sra. Komuro e foi morar em Nova York.
Ela acaba de se empregar, sem salário, no
museu Metropolitan. Mako está organizando a exibição de pinturas de um monge
budista do século XIII.
Do outro lado do mundo, o príncipe William
é atazanado pelas fofocas de que teria uma ligação com a ex-modelo casada Rose
Hanbury. Ela é dois anos mais nova que Kate Middleton, duquesa de Cambridge. Lá
atrás, foram muito amigas.
O protocolo de Simões Filho
Abraham Weintraub perdeu a cadeira de
ministro da Educação de Bolsonaro em 2020 e ganhou um prêmio de consolação no
Banco Mundial. Voltou ao Brasil, quer ser governador de São Paulo e atirou no
chefe. Contou que Bolsonaro lhe disse “você vai ter que entregar o Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação ao Centrão.” Sempre de acordo com sua
versão, Weintraub reclamou e procurou adiar a entrega, até que foi “expulso” do
ministério.
Antes de sua saída eram públicas as
benevolências do FNDE. Enquanto esteve no governo, notabilizou-se por querer
mandar para a cadeia ministros do Supremo. Nunca mencionou larápios que bicavam
no Fundo.
Ele e todos os doutores que saem do governo,
sem apresentar fatos que justifiquem seus descontentamentos, deviam seguir o
protocolo do baiano Simões Filho.
Ele era ministro da Educação e estava na
França em 1953, quando foi demitido por Getulio Vargas. De volta ao Brasil, foi
cercado por jornalistas interessados em pescar queixas.
Repeliu-os com uma lição:
“Eu perdi o ministério, mas não perdi a
educação”.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e acredita em tudo o
que os governos dizem. Parece-lhe razoável que os 35 mil comprimidos de Viagra
comprados pelas Forças Armadas se destinassem a cuidar de hipertensos, e só.
O que o cretino ainda não entendeu foi a
compra de 60 próteses penianas.
Tunga nos taxistas
Entre taxas e serviços, cada taxista de São
Paulo está sendo mordido em cerca de R$ 300 para regularizar seu taxímetro de
acordo com a nova tarifa. Ela foi reajustada depois de sete anos.
Pelo lado da vítima, esse valor equivale a
algo como um dia de trabalho de 40 mil motoristas.
Pelo de quem morde, a arrecadação vai a
mais de R$ 10 milhões.
Ônibus do Rio
O prefeito Eduardo Paes conhece de cor e
salteado o mundo dos transportes públicos do Rio.
O desinteresse de empresas para fornecer
ônibus para a prefeitura reflete uma queda de braço que algum dia poderá levar
ao colapso do sistema público de transporte da cidade.
Encrenca
Partidários do presidente Bolsonaro estão
colocando cartazes em pequenas cidades do interior do Nordeste dizendo que lá
Lula não é bem-vindo.
Os termos usados são grosseiros e
agressivos.
Silêncio
No entorno de Bolsonaro admite-se a
hipótese de ele não participar de debates durante a campanha eleitoral.
Em 2018, tendo sofrido um atentado, ele
tinha motivo.
Cintra disse tudo
O médico Walter Cintra Ferreira Junior
disse tudo:
“O cidadão que tiver um plano privado deve ser atendido na rede de serviços do seu plano de saúde e, quando for atendido no SUS, a operadora deve ressarcir o Estado a despesa pelo atendimento prestado ao beneficiário do plano privado.”
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