Folha de S. Paulo
Se os candidatos alterassem radicalmente
seus programas, o voto não seria afetado
Muitos esperavam que a disputa eleitoral
produzisse um deslocamento centrípeto por parte dos dois principais contendores
do pleito. Assim, Lula e Bolsonaro tenderiam à moderação e abandonariam os
pontos mais radicais de suas agendas. Isto pode ser observado no passado, mas
não no presente. Os candidatos têm falado para seus públicos internos.
A escolha de Alckmin para vice parece exceção; mas na realidade representa um
seguro político —um compromisso crível— para cenário de eventual crise
institucional, não concessão programática. A aproximação com o centrão é
estratégia de sobrevivência política, não abandono de questões controversas da
agenda pública.
O modelo analítico que informa a conjetura de convergência é
clássico: a preferência do eleitor mediano baterá as demais, em escolhas
binárias, o que criaria incentivos centrípetos para as candidaturas.
Há dois problemas com essa visão. O primeiro é que a expectativa pressupõe que
a agenda pública seja a clássica , unidimensional, em torno de questões de
natureza sócio econômica —política social, desemprego etc— e comportamental. Na
realidade, atualmente ela envolve duas dimensões cruciais adicionais: a
republicana/corrupção e a liberdades/democracia.
Grande parte do antipetismo tem por base a primeira; a rejeição a Bolsonaro,
por sua vez, envolve a segunda. Essas dimensões são em larga medida ortogonais
à primeira: a esquerda corrupta ou que apoia regimes autoritários; ou o
conservadorismo democrático ou republicano, por exemplo, não cabem na dimensão
unidimensional.
No
contexto multidimensional, portanto a expectativa de convergência falha.
O segundo e mais importante refere-se à
natureza
afetiva da polarização atual que está ancorada fundamentalmente nestas
duas dimensões, e não em aspectos programáticos. Estes ocupam um lugar
acessório. Proponho um experimento mental: se Lula ou Bolsonaro mudassem seus
programas substancialmente, o voto seria afetado? Isto sugere que o espaço de
crescimento para uma terceira candidatura será a rejeição afetiva das duas
candidaturas, não seu programa.
A rejeição ao rival não permite gradações, travando o deslocamento ao centro,
que não ocorre como esperado. Há incentivos para que os candidatos focalizem o
seu núcleo duro de apoiadores, e não convirjam. Esta estratégia é eficiente do
ponto de vista eleitoral, porque se alimenta de emoções e oblitera o caminho
para outras alternativas.
Mas há limites como fica claro na pesquisa Quaest/Genial que
mostrou o impacto negativo da graça concedida ao
deputado Daniel Silveira sobre a popularidade presidencial. Muita balbúrdia
vira ruído.
*Professor da Universidade Federal de
Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).
Um comentário:
Lula é mais moderado que Bolssonaro,a Marina é mais moderada ainda,mas nem é candidata.
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