Membro histórico do partido evita se contrapor a declarações de endosso ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Por Gustavo Schmitt / O Globo
Integrante da ala “histórica” do PSDB,
partido ao qual se filiou há mais de 30 anos, o ex-senador José Aníbal defende
que a sigla retome o debate sobre a candidatura própria — e lista no horizonte
os nomes do ex-governador Eduardo Leite e do senador Tasso Jereissati. Ele, no
entanto, reconhece a tendência interna de apoio à senadora Simone Tebet
(MDB-MS) e evita se contrapor a declarações de endosso ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), como já fez o ex-ministro Aloysio Nunes: “Não tenho
restrições a essas manifestações”.
A saída do ex-governador João
Doria da disputa presidencial após vencer as prévias macula a imagem do PSDB?
Lamentamos muito, porque fizemos um
movimento inovador na política brasileira com as prévias. Infelizmente, o Doria
ganhou, mas não levou. Ele não levou o partido a ampliar o seu espaço em meio à
polarização. Não foi possível, mesmo com os méritos que ele (Doria) teve ao
viabilizar a Coronavac.
O PSDB gastou R$ 12 milhões
com as prévias. Os advogados de Doria afirmaram que isso poderia levar à
rejeição das contas do PSDB pelo TSE...
Ele usou todos os argumento (para ser
candidato). Mas, se estiver tudo de acordo com o permitido pela lei, não tem
preocupação.
O grupo de Doria disse que
houve “golpe”. O senhor concorda?
Nem ele (Doria) acreditava mais nisso quando decidiu abrir mão da candidatura. Ele observou que havia dificuldade, especialmente dos candidatos aos governos estaduais e deputados, de estarem associados à candidatura presidencial dele. Doria conseguiu ter uma rejeição alta e uma intenção de votos muito baixa. É muito difícil resolver essa equação.
A que atribui a rejeição?
Talvez o marketing e a autopropaganda em
excesso tenham gerado um resultado contrário. E também uma atitude muito
polarizante, seja contra Bolsonaro ou no discurso antipetista.
O senhor defendia o apoio a
Simone Tebet, mas tem falado em candidatura única tucana. Quer a volta do
ex-governador Eduardo Leite à disputa?
Na política, nada é impossível. Com a saída
do Doria, seria importante o PSDB lançar candidato. Não para conflitar com a
Simone Tebet, que é muito qualificada. O tempo que temos é curto e acho que
comportaria a candidatura do Leite e do PSDB pelo menos até as convenções. Ele
não é polarizante; ia trabalhar com todos os brasileiros e não está com A, B ou
C. E também temos o senador Tasso Jereissati. Hoje a tendência é o apoio a
Simone, mas há pendências. Se não resolver, quem sabe a possibilidade de uma
candidatura individual surja de novo.
O PSDB está dividido e
alinhado com o bolsonarismo nas votações do Congresso. Como o senhor avalia
essa situação?
Tem coisas que me envergonham, mas ao mesmo
tempo me estimulam a tentar recuperar o partido. A derrota do Aécio Neves em
2014 foi um anticlímax, já que havia expectativa de vitória. Ali, o partido se
distanciou dos valores de sua fundação. Hoje, a atuação do PSDB na Câmara é
deletéria. Perdeu protagonismo parlamentar. Oxalá a gente consiga encontrar
caminhos para o partido, que nos recoloquem como uma força política
contemporânea.
O Aloysio Nunes declarou
apoio a Lula por não acreditar na terceira via. Esse será o caminho de parte do
PSDB?
Eu sei de outros que também pensam assim, mas ainda não externaram a posição publicamente. Não tenho restrição às manifestações que eles fizeram. Até entendo. Lula é fruto da democracia, da liberdade de manifestação e do debate. Já o Bolsonaro é uma figura perniciosa e que faz mal ao país internamente e externamente, com resultados que impactam duramente a vida do povo trabalhador. Mas acredito que o centro democrático pode adquirir densidade e que tem eleitores que não se decidiram. Seja com a Simone, ou com uma candidatura própria que o PSDB possa oferecer.
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