Folha de S. Paulo
Governo é o mais diverso da história, mas
não muito, e agora vai ter nomeações do centrão
Luiz Inácio Lula da
Silva nomeou 21 dos seus 37 prováveis ministros. Por enquanto, é um
ministério dominado por PT, aliados, companheiros de viagem e de gente
representativa de movimentos sociais, negros em particular. Agora em diante é
que são elas (poucas elas): vem a barganha com centrão e Congresso.
É um ministério de gente muito experiente,
que ocupou cargos executivos de importância. Vai ser o mais diverso da
história, mas lá não muito. Mulheres talvez chefiem um quarto das pastas ou um
tico mais do que isso, por exemplo.
É um governo marcadamente nordestino. Embora seja injusto e ignorante jogar as pessoas da região nesse balaio genérico, o adjetivo tem, no contexto, significado político. Lula deve sua eleição às largas maiorias que teve no Nordeste, que tem tido muitos governadores de esquerda. No mais, o gabinete é em boa parte paulista.
Dos nomes confirmados, sete são
ex-governadores. Fernando
Haddad, ex-prefeito paulistano, entra nessa conta de sete porque a
prefeitura de São Paulo é o terceiro maior governo do país. Fica apenas atrás
do Executivo da República e do estado.
O gabinete pode ter pelo menos mais um
governador, pois Renan
Filho, de Alagoas, deve ter um ministério na "cota" do MDB-Renan
Calheiros.
Há cinco ex-ministros, todos de governos do
PT, inclusive José
Múcio Monteiro (Defesa). Por falar nele, Múcio é uma das poucas
figuras, além de Geraldo
Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Márcio França (Portos
e Aeroportos), que não são de esquerda. França e Alckmin são do PSB, que junta
de ex-tucanos a ex-psolistas e muito mais. Há quatro nomes que já ocuparam
cargos de secretário nos governos petistas (segundo escalão, abaixo de
ministro) e ministros em outros postos.
O ministério da Saúde escapou da mão do
centrão e ficou com Nísia
Trindade. Era presidente da Fiocruz, que, em termos de assuntos e
importância, é como um ministério, embora sem o tamanho e a complexidade
prática da Saúde.
A Educação ficou com Camilo
Santana (PT) e Izolda Cela, que governaram o Ceará, estado com poucos
recursos materiais que tem mostrado como usar a cabeça para melhorar o ensino.
Até agora, falta "união
nacional". Lula 3 colocou Alckmin no Mdic, só, o que, por falar nisso, não
diz boa coisa sobre a capacidade do governo de agregar outros quadros
econômicos que fiquem muito longe da esquerda. Mas a "união nacional"
de Lula começou e praticamente acabou em Alckmin.
O que vai vir de centrão e Congresso não
deve significar diálogo maior com aquela parte da sociedade que se uniu a Lula
contra a reeleição das trevas. É a barganha sabida para dar estabilidade
político-parlamentar ao governo.
Simone Tebet (MDB
"voo solo") não tem cargo ainda. É uma figura emblemática. Foi uma
candidata sem chances, ignorada pelo seu partido e que, enfim, teve pouco voto,
mas que mostrou capacidade política para ficar maior do que tudo isso e de
mudar sua biografia.
Juntou em torno de si o que restou dos
quadros do velho PSDB e de novos tucanos "em espírito", em especial
na área econômica (que já se distanciou de Lula 3 e está pessimista com o
governo). É também um elo com as elites mais civilizadas do país.
Falta também saber o que será feito
de Marina
Silva (Rede), outra ponte com elites civilizadas (não apenas econômica)
e com o resto do mundo. Um programa ambiental forte, com ramificações
econômicas e tecnológicas, é uma avenida possível de sucesso para Lula 3. Se
Marina Silva e os quadros que desenvolveram as instituições ambientais nos
governos petistas não tiverem relevância (sem prejuízo de agregar gente nova),
Lula e o país terão um problema grave.
2 comentários:
Faz sentido.
Muitosentido.
Marina e Simone,grandes mulheres,gostaria de vê-las no governo,apesar que a primeira foi eleita deputada e de certa forma já estará.
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