sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Rogério Werneck* - Um trauma mal resolvido

O Estado de S. Paulo

Negacionismo de Lula e do PT compromete a largada do novo governo

Para Lula e o PT, o desastroso mandato e meio de Dilma Rousseff continua sendo um trauma mal resolvido. Aferrados ao negacionismo, Lula e o partido jamais conseguiram desenvolver uma narrativa apresentável do que se passou entre 2011 e 2016. E o que agora se vê é que essa incapacidade de reconhecer o que, de fato, aconteceu começa a afetar decisões cruciais do presidente eleito sobre a composição da nova equipe econômica e a condução da política econômica do futuro governo.

Para todos os efeitos, Lula se comporta como se, em sua cabeça, o governo Dilma não tivesse existido. Um período a ser desconsiderado e, de preferência, jamais mencionado. O problema é que, como os segmentos mais bem informados da opinião pública estão perfeitamente a par do que se passou no governo Dilma, se cria uma situação de grande constrangimento a cada vez que Lula se permite fazer declarações que parecem presumir que a audiência nada sabe a esse respeito.

Lula tem feito o possível para se dissociar do calamitoso desempenho de Dilma Rousseff e assegurar que seu novo governo nada terá a ver com aquela experiência tão traumática. Mas, nesse empenho, tem-se defrontado com duas enormes dificuldades.

A primeira é que é mais do que sabido que foi de Lula, e só dele, a ideia de alçar Dilma Rousseff à Presidência da República. Um desatino que, em face de tenaz resistência do PT, teve de ser enfiado pela goela abaixo do partido. A segunda é que Dilma não governou sozinha. E nem errou sozinha. Sua administração foi tripulada de ponta a ponta pelo PT, inclusive com a preservação quase integral da equipe econômica de Lula. Não há como negar que, entre 2011 e 2016, o País foi governado pelo partido.

Como é esse mesmo PT que agora, seis anos depois, voltará a tripular os cargos mais importantes do governo, é mais do que natural que haja grande apreensão com os nomes escalados e as ideias que acabarão prevalecendo. Especialmente porque, diante da extensão do comprometimento do PT com o que ocorreu no governo Dilma, o que acabou se impondo, no projeto de recondução de Lula ao Planalto, foi a aposta no pacto de manter o partido coeso, com olhos fechados para erros e excessos cometidos, em amnésia coletiva, sem recriminações e autocríticas.

Tendo essa aposta negacionista sido coroada de sucesso, não chega ser uma surpresa que o novo governo que agora se forma não esteja conseguindo articular uma visão minimamente lúcida da essência dos desafios de política econômica que o País tem pela frente.

*Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de economia da PUC-Rio

3 comentários:

Anônimo disse...

Com todo respeito, escreveu, escreveu, mas sem nenhum conteúdo a não ser premonitório sinalizando um viés parcial e que parece torcer para dar errado. Fico perplexo pois o novo governo nem começou, está buscando ajustar a falácia do orçamento de 2023, consegue vitórias na aprovação da PEC e somos sujeitos a textos como este com olhar para atrás e que já prevê um futuro ruim. Que venha o Ano Novo!

Jaf07 disse...

Em resumo: a esquerda ganhou, mas tem q governar como se fosse a direita. Só q aí seria estelionato eleitoral, como aconteceu com Dilma no segundo mandato, quando trouxe o Joaquim Levy pra comandar a economia.

ADEMAR AMANCIO disse...

E há quem diga que a imprensa só é rigorosa com Bolsonaro.
Tá.