O Estado de S. Paulo
Gastar o que gastamos com pequenos grupos de interesse não leva ao desenvolvimento
Há duas semanas, um banco de médio porte
entrou em colapso nos Estados Unidos, sendo a maior falência bancária desde a
grande recessão de 2008. O banco SBV faliu porque tomou risco sem cobertura,
tinha uma base de depósitos arriscada e porque a regulação permitiu que o banco
tomasse o tamanho do risco que tomou. O banco agora está nas mãos dos
reguladores.
Pela natureza do nicho do banco, startups no Vale do Silício, nos Estados Unidos, a maior parte dos depósitos feitos no SBV era maior do que os US$ 250 mil assegurados pelo fundo garantidor de crédito norte-americano. O governo anunciou que o resgate dos depositantes será integral, a despeito da regra.
É natural usar passivos de curto prazo para
financiar empréstimos e ativos de longo prazo. Mas é preciso entender como esse
investimento vai responder a mudanças significativas do cenário macroeconômico,
como a um aumento de juros, por exemplo. Gerenciar risco é a alma do negócio.
Sabemos que, muitas vezes, as decisões dos
tomadores de risco podem estar descasadas do que seria melhor para o longo prazo
da empresa – ou para o bem-estar geral da economia. Em 2020, o Fed liberou
bancos da chamada reserva técnica para depósitos à vista, um estímulo para a
tomada de risco. A decisão incentiva a má alocação de recurso por parte de
tomadores de risco na economia.
No Brasil, vemos a discussão dos subsídios
econômicos nos noticiários. O Brasil concedeu R$ 329,4 bilhões em subsídios,
isenções e desonerações no ano passado, valor que representa 3,8% de tudo que é
produzido na economia. O novo Bolsa Família tem um custo de R$ 175 bilhões
anuais.
Gastamos aqui quase o dobro com subsídios
do que com programas sociais. A expectativa é de que isso gere empregos. Não há
avaliação de impacto sistemático desses subsídios nos tais empregos gerados.
Permite-se a apropriação do Estado por pequenos grupos de interesse, criando-se
um desbalanço democrático: um pequeno grupo acaba tendo mais representatividade
democrática do que uma maioria, alienada dos recursos sociais.
O que vemos é o socialismo para a elite do
Vale do Silício e do Brasil. Socializam-se perdas e gastos dessa elite
produtora. A sociedade toda paga por isso, mas, no nosso caso, segue alienada
de saneamento básico, boa infraestrutura, escolas públicas de qualidade e muito
mais. Gastar o que gastamos com pequenos grupos de interesse certamente não é caminho
para o desenvolvimento.
*Professora do Insper, PH.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook
Um comentário:
Nem vem ao caso ficar mostrando a hipocrisia dos liberais que na hora da falência compartilham sua perdas com a sociedade e na bonança enche o bolso sozinho. Acho que o que resume sempre esse estado de coisas é a brilhante e eterna - até quando durar essa maneira bizonha de proteção aos ricos pelo estado - feita por Martin Luther King: "Socialism for the riches, harsh individualism for the poor".
Aliás, acho que a autora deveria ter colocado isso como subtítulo da sua coluna.
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