segunda-feira, 29 de maio de 2023

Ana Cristina Rosa - Mudar a pergunta é revolução

Folha de S. Paulo

Públicos ou não, casos de racismo são parte do cotidiano de milhões de pessoas

assassinato de Genivaldo de Jesus —o homem negro, com esquizofrenia, asfixiado até a morte numa viatura transformada em câmara de gás por policiais rodoviários federais— completou um ano na quinta-feira (25). Apesar da fartura de imagens acerca do ocorrido às margens de uma rodovia no Sergipe, passaram-se 12 meses até que a PRF dirigisse um pedido de desculpas à família, que segue esperando por justiça e indenização.

Na quarta-feira, um jogo eletrônico estimulando a exploração sexual e a tortura de pessoas negras foi retirado da loja virtual da multinacional Google. Intitulado "Simulador de Escravidão", o dito "entretenimento" (contém tristeza e ironia) estava fazendo sucesso. Além de avaliações positivas, usuários pediam por mais opções de castigos físicos —pasmem os minimamente civilizados.

Também dia 24, a divulgação do Índice de Escravidão Global 2023, elaborado pela organização internacional Walk Free, apontou que o Brasil —último país das Américas a abolir a escravização— tem 1,05 milhão de pessoas em situação de escravidão contemporânea.

Diante do rumoroso caso de racismo sofrido pelo jogador Vinícius Jr., na Espanha, na terça-feira (23) o senador Magno Malta (PL-ES) disse que a imprensa estaria "revitimizando" o atleta e cobrou a defesa dos macacos! Depois, tentando se explicar, deu entrevista onde afirmou ter uma filha "negra de verdade".

Em três dias consecutivos, exemplos diversos de violação de direitos envolvendo a questão racial. Públicos ou não, casos de racismo são parte do cotidiano de milhões de pessoas submetidas a privações, humilhações, dores físicas e psíquicas causadas pela desumanização de seus corpos mundo afora.

Colocar-se no lugar do outro é mais fácil quando se está na mesma situação. Mas o antirracismo precisa ser tratado como causa da humanidade. Aos que questionam por que escrevo "só" sobre isso, lembro que mudar a pergunta é revolucionário.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Magno Malta parece que não se considera negro.