O Globo
O Brasil está parado — não sem que os
desafios encorpem — enquanto a República viaja. A República viaja em dólares e
euros. Voltará com chocolates suíços. O feriadão se impõe; se impôs. Pediu Bis.
Imposto à agenda brasileira, pelos senhores de Brasília, mais um recesso — nem
sequer votada a Lei de Diretrizes Orçamentárias. (Longamente expostas à
criatividade dos dispêndios ilimitados, as balizas para o Orçamento já decerto
acomodaram — é impositivo — novas modalidades para o exercício do orçamento
secreto.)
Quase todo mundo (poderoso) pelo mundo, enquanto — conflagrado o mundo — a situação econômica brasileira, sob incertezas, complica-se. Governo que não corta gastos — e cujas despesas aumentarão autorizadas pela regra fiscal — precisaria multiplicar as receitas. Depende do Parlamento, ao mesmo tempo mole e faminto. Ao mesmo tempo indolente (para votar) e apressado (para comerciar as votações). Sempre faminto. A conta não fecha.
Rodrigo Pacheco — não confundir altura com
altitude — foi à Europa. Levou consigo o Senado. Noutras palavras: Ciro
Nogueira e — primeiro-ministro do Congresso — Davi Alcolumbre. (Luís Roberto
Barroso foi na cota do Supremo mesmo.) O país sendo discutido em Paris
(Sarkozy, ex-presidente francês, ouviu o discurso prafrentex de Barroso,
presidente de Corte constitucional, e constatou que o ministro está pronto para
assumir outra presidência), enquanto a reforma tributária vai exposta aos bafos
lobistas das exceções. (O estadista Pacheco acabará vitalício — apadrinhado por
Alcolumbre — num tribunal de contas, enquanto aquele para quem esquentou
cadeira reassumirá o trono de jure e de fato.)
Enquanto Lula convalesce no Alvorada e o
debate interno se organiza — o crepúsculo — entre partidários de chocolates
ruins, Arthur Lira toca trem da alegria pela Ásia. (Em visita à Assembleia
Nacional Popular da República Popular da China, talvez ministre curso sobre
gestão autoritária de parlamento.)
O trem da alegria como modo de continuar — de
sustentar — a paralisia da pauta parlamentar conforme induzida, há semanas, sob
desculpas variadas, pelo presidente da Câmara. Já até se vendeu o estapafúrdio
(viagem!) de que a interdição dos trabalhos seria obra da oposição,
insatisfeita com avanços do STF sobre o Legislativo; como se o próprio Lira não
tivesse progressivamente desmontado o kit(kat) de obstrução parlamentar
(matéria, aliás, obrigatória no curso para os colegas chineses).
Aquele caso sui generis da tal base de apoio
ao governo que, tendo levado um punhado de ministérios, trava a agenda do
governo porque — não sendo base do governo — quer mais. Quer a Caixa. As
caixas.
Aprecio a maneira como o fufuca de Portos e
Aeroportos, Silvio Costa Filho, do espectro lirista, explicou — em entrevista
ao GLOBO — a adesão de seu partido, o Republicanos, ao Planalto:
— Há um sentimento colaborativo na bancada,
sobretudo em relação à agenda econômica. Naturalmente, discutiremos projeto por
projeto.
Obra de arte é a ideia de “sentimento
colaborativo”. Da parte de quem ganha espaços bem concretos. E quer mais; e
levará, em troca desse sentido bem-intencionado (e envernizado) de colaborar:
— Estamos dialogando com a Casa Civil para
criar a Secretaria Nacional de Hidrovias, que ficará aqui no ministério. Vai
cuidar de dragagem, de novas embarcações. Vai fortalecer novas rotas de escoamento
de produção.
O “sentimento colaborativo”: levar
superfícies da administração pública, com “novas rotas de escoamento”, para
viajar no tráfego do poder, inclusive com “novas embarcações”, e se comprometer
apenas com a discussão — negociação — projeto por projeto, ocasião em que se
pedirão mais e mais “dragagens”.
Enquanto escrevo, no fim da tarde de
segunda-feira, aventa-se a chance de que algo se mova nos próximos dias —talvez
já nesta terça. A Câmara teria se acertado para encaminhar a votação — Lira
ainda fora — dos projetos de taxação dos fundos exclusivos e offshore.
Plantou-se até que a Casa, para expressar
impessoalidade, pretenderia exibir a capacidade de votar matérias importantes
sem a presença de seu presidente. Afora a confirmação de que tudo ali anda e
estaca em razão do imperador, convida-se o maledicente — ainda bem que não
somos — a provocar: Lira mandou a Câmara mostrar que consegue girar sem ele.
(Viagem!)
Projeto a projeto, né?
O Lirão — quem dera houvesse um centrão —
terá a Caixa. Questão de tempo. O método ensina que a pauta do governo
caminhará um pouco. Padilha e Guimarães a declarar que a relação se estabilizou
— e que agora vai. Lira a exalar poder. O que faz destravar. O que cumpre
acordos. E logo se mobilizará a mesma disposição para boicote — o país a travar
de novo — em função do desejo pela Funasa.
A base — que não é base, só oportunista — tem
fome. E para o Brasil porque tem pressa.
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