Valor Econômico
Tarcísio joga com o prazo de 4 de abril para
levar o bolsonarismo a concluir pela inviabilidade de Flávio e capitular
Ante a chantagem do senador Flávio Bolsonaro
(PL-RJ) sobre o preço para a retirada de sua candidatura, o governador Tarcísio
de Freitas resolveu pagar para ver com o apoio à sua pré-candidatura. Como está
tratando com uma família de enforcados, resolveu fornecer corda para ver até
onde vão bancar a candidatura própria que não os devolverá à Presidência da
República e dificultará a que a direita se una para alcançá-la.
Numa época em que a direita tinha prumo no Brasil, um dos seus melhores frasistas, Marco Maciel, costumava dizer que quem tem prazo não tem pressa. O governador paulista agiu sob este adágio. Como não se propõe a pagar o preço fixado pelo senador para retirar sua candidatura, a anistia a Jair Bolsonaro, Tarcísio resolveu pagar para ver se a família vai bancar o rumo traçado.
Não está claro como se dará a disputa contra
a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ante uma oposição desunida,
mas tampouco há razão para a direita se decidir agora se o prazo de
desincompatibilização de quem detém mandato no Executivo é 4 de abril. Até lá,
pode acontecer tudo, inclusive nada, outro dos adágios do vice-presidente de
Fernando Henrique Cardoso.
Uma das razões por que a anistia ficou cara
demais é que a maioria da população é contra e ninguém está disposto a comprar
briga com a opinião pública no ano eleitoral. Ainda que os parlamentares
dispusessem a ir contra a vontade popular, o Supremo Tribunal Federal a
derrubaria, e tornaria o desgaste contraproducente.
É esta a razão pela qual as campanhas
enfraquecem os políticos. Eles ficam mais amarrados para agir em desacordo com
o eleitor. A revelação, pelo jornalista Lauro Jardim, da viagem do ministro
Dias Toffoli para a final da Libertadores em Lima desfavorece a busca de
blindagem da Corte. O ministro usou o mesmo jatinho de um dos advogados do
Master e, dias depois de sua volta, impôs sigilo aos processos contra o banco.
A conduta é incompatível com um tribunal que
pretende dificultar a imputação de crimes de responsabilidade dos ministros.
Isso é facilmente compreendido pelo eleitor. Mas a inércia do calendário é
aliada do STF. A atualização da Lei do Impeachment com a equiparação do quórum
ao do presidente é razoável. A restrição da imputação de crime pelos ministros
ao PGR não o é. E adoção de um código de conduta da Corte, como a preconiza seu
presidente, Edson Fachin, é desejável em quaisquer cenários.
Não é por acaso que a divisão da direita se
acentua no momento do impasse em relação às regras do impeachment de ministros
da Corte. A oposição também precisa estar unida para enfrentar a pauta. E não
apenas na votação do impeachment no STF. O caso Master não joga uma lupa apenas
sobre os fundos de Previdência do Rio, de Maceió ou do Amapá. A Empresa
Metropolitana de Águas e Energia (Emae), comprada pelo fundo controlado pelo
empresário Nelson Tanure, investiu R$ 160 milhões de um banco do conglomerado
Master antes de ser comprada pela Sabesp privatizada no governo Tarcísio de
Freitas.
Se a família Bolsonaro decidir ir em frente
com uma candidatura própria, restará ao governador, no limite, se
desincompatibilizar em 4 de abril e, se não houver segurança em relação a uma
candidatura desacoplada do bolsonarismo, disputar o mesmo cargo. Seria numa
repetição do que fez Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, mas não é um cenário
bom para o governo Lula, que teria que definir seus nomes para a chapa paulista
no escuro.
Esta indefinição é o que tem levado a
tentativa do Centrão de limpar o terreno para uma candidatura do governador
Ratinho Jr. As pesquisas mostram que o senador Sergio Moro (União-PR) é o
favorito na disputa estadual. Este favoritismo estaria levando o governador
paranaense a titubear ante uma candidatura presidencial visto que se prevê uma
devassa nas contas estaduais a ser promovida por Moro se eleito governador. Se
perder, Ratinho Jr. ficaria exposto. A condição de senador lhe daria mais
blindagem.
Foi em meio a esta indefinição que o Supremo
ressuscitou um processo de quase 20 anos em que Moro é acusado por uma
ex-deputado estadual, Tony Garcia, que teria recebido do ex-juiz a missão de
grampear autoridades locais do Judiciário. O presidente do PP, Ciro Nogueira
(PI) foi ao Paraná nesta segunda para levar o diretório paranaense a vetar o
apoio à postulação do senador e trombou, nesta matéria, com o presidente do
partido de Moro, o União Brasil, Antonio Rueda.
Se União pretende manter Moro candidato, até
porque tem lucrado com a migração de parlamentares que querem apoiá-lo, não faz
o mesmo com o governador Ronaldo Caiado, que pode vir a ser acolhido pelo
Solidariedade se decidir seguir com sua postulação presidencial.
Até o início da noite, havia dúvidas sobre o
quórum da reunião com lideranças partidárias do Centrão convocada por Flávio
Bolsonaro para discutir o preço da manutenção de sua candidatura. O clima, ao
longo do dia, foi de revolta com o rumo tomado pelo bolsonarismo à revelia da
consulta aos demais partidos.
A leitura foi a de que o bolsonarismo,
sentindo-se abandonado em função da prisão do ex-presidente, partiu para
retaliar os antigos aliados com a chantagem do preço para retirar a candidatura
de Flávio. Em meio ao desnorteamento de seu campo, Tarcisio agiu sem afobação.

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