terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Tarcísio deu corda a uma família de enforcados, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Tarcísio joga com o prazo de 4 de abril para levar o bolsonarismo a concluir pela inviabilidade de Flávio e capitular

Ante a chantagem do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sobre o preço para a retirada de sua candidatura, o governador Tarcísio de Freitas resolveu pagar para ver com o apoio à sua pré-candidatura. Como está tratando com uma família de enforcados, resolveu fornecer corda para ver até onde vão bancar a candidatura própria que não os devolverá à Presidência da República e dificultará a que a direita se una para alcançá-la.

Numa época em que a direita tinha prumo no Brasil, um dos seus melhores frasistas, Marco Maciel, costumava dizer que quem tem prazo não tem pressa. O governador paulista agiu sob este adágio. Como não se propõe a pagar o preço fixado pelo senador para retirar sua candidatura, a anistia a Jair Bolsonaro, Tarcísio resolveu pagar para ver se a família vai bancar o rumo traçado.

Não está claro como se dará a disputa contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ante uma oposição desunida, mas tampouco há razão para a direita se decidir agora se o prazo de desincompatibilização de quem detém mandato no Executivo é 4 de abril. Até lá, pode acontecer tudo, inclusive nada, outro dos adágios do vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso.

Uma das razões por que a anistia ficou cara demais é que a maioria da população é contra e ninguém está disposto a comprar briga com a opinião pública no ano eleitoral. Ainda que os parlamentares dispusessem a ir contra a vontade popular, o Supremo Tribunal Federal a derrubaria, e tornaria o desgaste contraproducente.

É esta a razão pela qual as campanhas enfraquecem os políticos. Eles ficam mais amarrados para agir em desacordo com o eleitor. A revelação, pelo jornalista Lauro Jardim, da viagem do ministro Dias Toffoli para a final da Libertadores em Lima desfavorece a busca de blindagem da Corte. O ministro usou o mesmo jatinho de um dos advogados do Master e, dias depois de sua volta, impôs sigilo aos processos contra o banco.

A conduta é incompatível com um tribunal que pretende dificultar a imputação de crimes de responsabilidade dos ministros. Isso é facilmente compreendido pelo eleitor. Mas a inércia do calendário é aliada do STF. A atualização da Lei do Impeachment com a equiparação do quórum ao do presidente é razoável. A restrição da imputação de crime pelos ministros ao PGR não o é. E adoção de um código de conduta da Corte, como a preconiza seu presidente, Edson Fachin, é desejável em quaisquer cenários.

Não é por acaso que a divisão da direita se acentua no momento do impasse em relação às regras do impeachment de ministros da Corte. A oposição também precisa estar unida para enfrentar a pauta. E não apenas na votação do impeachment no STF. O caso Master não joga uma lupa apenas sobre os fundos de Previdência do Rio, de Maceió ou do Amapá. A Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), comprada pelo fundo controlado pelo empresário Nelson Tanure, investiu R$ 160 milhões de um banco do conglomerado Master antes de ser comprada pela Sabesp privatizada no governo Tarcísio de Freitas.

Se a família Bolsonaro decidir ir em frente com uma candidatura própria, restará ao governador, no limite, se desincompatibilizar em 4 de abril e, se não houver segurança em relação a uma candidatura desacoplada do bolsonarismo, disputar o mesmo cargo. Seria numa repetição do que fez Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, mas não é um cenário bom para o governo Lula, que teria que definir seus nomes para a chapa paulista no escuro.

Esta indefinição é o que tem levado a tentativa do Centrão de limpar o terreno para uma candidatura do governador Ratinho Jr. As pesquisas mostram que o senador Sergio Moro (União-PR) é o favorito na disputa estadual. Este favoritismo estaria levando o governador paranaense a titubear ante uma candidatura presidencial visto que se prevê uma devassa nas contas estaduais a ser promovida por Moro se eleito governador. Se perder, Ratinho Jr. ficaria exposto. A condição de senador lhe daria mais blindagem.

Foi em meio a esta indefinição que o Supremo ressuscitou um processo de quase 20 anos em que Moro é acusado por uma ex-deputado estadual, Tony Garcia, que teria recebido do ex-juiz a missão de grampear autoridades locais do Judiciário. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI) foi ao Paraná nesta segunda para levar o diretório paranaense a vetar o apoio à postulação do senador e trombou, nesta matéria, com o presidente do partido de Moro, o União Brasil, Antonio Rueda.

Se União pretende manter Moro candidato, até porque tem lucrado com a migração de parlamentares que querem apoiá-lo, não faz o mesmo com o governador Ronaldo Caiado, que pode vir a ser acolhido pelo Solidariedade se decidir seguir com sua postulação presidencial.

Até o início da noite, havia dúvidas sobre o quórum da reunião com lideranças partidárias do Centrão convocada por Flávio Bolsonaro para discutir o preço da manutenção de sua candidatura. O clima, ao longo do dia, foi de revolta com o rumo tomado pelo bolsonarismo à revelia da consulta aos demais partidos.

A leitura foi a de que o bolsonarismo, sentindo-se abandonado em função da prisão do ex-presidente, partiu para retaliar os antigos aliados com a chantagem do preço para retirar a candidatura de Flávio. Em meio ao desnorteamento de seu campo, Tarcisio agiu sem afobação.

 

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