domingo, 7 de dezembro de 2025

Não a Flávio é sim a Tarcísio, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Rejeição a Flávio e ao sobrenome Bolsonaro desencadeia campanha pró Tarcísio

O tímido lançamento do senador Flávio Bolsonaro à Presidência, por ele próprio, numa mera notinha, deixa dúvidas se é para valer ou não, racha a direita e é comemorado pelo lulismo. Tudo somado, o principal efeito foi o oposto do desejado pela família: deflagrar uma campanha de setores políticos, econômicos e financeiros a favor de Tarcísio Gomes de Freitas. O não a Flávio é o sim a Tarcísio contra Lula.

Como levar a sério um lançamento feito pelo próprio interessado, numa nota desenxabida, no fim tarde de uma sexta-feira? A primeira impressão foi natural: isso não é sério, foi só para conter a onda pró Michelle, enquanto é tempo. Ou seja, movimento preventivo.

E como reagiu a direita? Como sempre, rachada. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que nem sequer foi informado pelo “capitão Bolsonaro”, usou um tom conformado: “Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua précandidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado!” Soa assim: “Ah, tá bem”.

O Centrão não tem pressa nem bate de frente com o bolsonarismo, só espera as condições ideais de tempo e temperatura para definir o barco pular e o rumo. Neste momento, não parece ser nem o barco nem o rumo do bolsonarismo, seja com Flávio ou não. O PSD, por exemplo, topa a aventura?

O lulismo considera Flávio adversário ideal. Divide a direita e carrega a alta rejeição ao pai e os próprios “esqueletos no armário”: rachadinhas, loja de chocolate, casa milionária mal explicada. Bem, nessa seara, Lula não leva vantagem...

A partir da dúvida, do racha da direita e da comemoração na esquerda, compreende-se por que a bolsa despencou: Flávio Bolsonaro, não! Ou melhor, nenhum Bolsonaro! Quem, então? Tarcísio, que vem sendo moldado para garantir os votos bolsonaristas e ampliá-los com os do centro, particularmente da centro-direita, que fizeram a diferença pró Lula em 2022. Tarcísio teme trocar a reeleição ao Bandeirantes pela disputa ao Planalto, e se tem a base paulista e aliados como o mundo econômico, precisa combinar com os “russos”: os Bolsonaros e o eleitor refratário a Lula e Bolsonaro. Seja Flávio balão de ensaio ou não, seu pai nunca deu sinal de apoio a Tarcísio. E não é com Derrite na Segurança, Renato Feder na Educação e Valéria Bolsonaro na Secretaria das Mulheres que ele vai atrair, decisivamente, o centro e o voto órfão tucano.

Favorito, Lula continua jogando parado. Bom ou ruim para o petista? Bom para se preservar. Ruim porque quem chama a atenção, provoca emoções e instiga o debate é a direita. Campanha é isso.

 

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