Folha de S. Paulo
Livro prega transformação de liberalismo numa
religião civil, que preencha necessidades metafísicas do homem
Pelo menos no Ocidente, nós respiramos
liberalismo —não apenas as instituições políticas que nos acostumamos a
associar a essa corrente de pensamento, como eleições livres, império da lei e
livre mercado, mas também seu sistema de valores, que inclui noções como
igualdade, equidade e respeito.
Esses elementos estão tão entranhados na cultura que nossa tendência é tomá-los como dados da natureza, não como resultado de um movimento filosófico. E, por estarmos tão imersos no liberalismo, deixamos de apreciar quanto ele molda nossa psicologia e influencia os mais diversos aspectos de nossa sociedade, da moral à estética.
Esse é o ponto de partida de "Liberalism as a Way of Life", de Alexandre de Lefebvre. O autor prossegue
dizendo que pelo menos aqueles de nós que não seguem uma religião deveriam
intensificar esse processo, abraçando também seus aspectos metafísicos, até
transformar o liberalismo numa filosofia de vida, da qual possamos extrair
satisfação pessoal e preencher vazios existenciais.
Lefebvre monta sua argumentação com base em
dois autores principais. O primeiro é John Rawls, de quem tira a ideia de que o liberalismo não apenas
leva as sociedades a funcionar como um sistema justo de cooperação como também
a de que ele embute uma concepção de boa vida. O segundo é o classicista Pierre
Hadot, para quem filosofias devem ser vistas também como uma receita para
viver a vida, um exercício espiritual.
O texto de Lefebvre junta comentários
eruditos com inúmeras referências pop a livros, filmes e séries de TV, o que
torna leitura divertida e faz ver quanto a ideologia liberal permeia nossa
cultura.
Ao mostrar o que falta para o liberalismo converter-se numa "religião
civil", que responda ao que seriam necessidades metafísicas do homem,
Lefebvre acaba dando algumas pistas de por que visões de mundo iliberais estão
ganhando espaço em tantas partes do mundo.
4 comentários:
Perfeito !
Muito bom o artigo.
Vade retro! Que Deus nos livre de mais esta religião enganadora...
Os pseudoliberais agora querem ser os intermediários entre Deus e os mortais. Querem privatizar e terceirizar a comunicação divina! Sempre picaretas!
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