Folha de S. Paulo
Presidente não falava tanto desde março,
quando começou onda de azares, crises e erros
Luiz Inácio Lula não dava
entrevistas exclusivas desde março. Foi quando o caldo engrossou. No Congresso,
ainda mais. Também na inflação e nos juros dos EUA, o que teve efeito ruim
sobre juros e dólar no Brasil, piorado pela mudança de metas fiscais. Sobreveio
a catástrofe no Rio Grande do Sul. Discursos e decisão desastrada do Banco
Central azedaram o caldo grosso.
Foi um trimestre de inversão de expectativas
na finança, embora menos em relação a PIB e emprego neste ano.
Na semana que passou, talvez o pico da crise recente, o presidente deu entrevistas exclusivas às rádios CBN (São Paulo), Verdinha (Ceará), Meio (Piauí) e Mirante (Maranhão) e ao jornal "O Imparcial" (Maranhão).
Lula reagiu aos problemas, mas não só. Se as
entrevistas provocaram o presidente a falar do que lhe importa, conviria
prestar atenção ao seguinte.
Primeiro, reforçou
o ataque a Roberto Campos Neto, presidente do BC. Se a direção do BC —esta
e a que ficar para 2025— quiser manter algum controle das condições
financeiras, dificilmente baixará a Selic antes do final do ano. Até Lula sabe
disso. Se, a partir de 2025, a direção do BC passar a cortar a Selic, vai
parecer uma vitória (pois terá maioria "luliana").
Segundo, quer
explorar petróleo na costa do Amapá (Bacia da Foz do Amazonas), uma
das decisões mais importantes que este governo vai tomar. Não se sabe se a
definição terá sido baseada em algum plano de transição energética (como trocar
fósseis por renováveis, em que ritmo, a que custo, com qual nível de segurança
de abastecimento e com quais sobras de receita para o Tesouro). Não se conhece
plano algum, amplo e organizado, a esse respeito.
Lula reconhece que há contradição entre
transição verde e aumento da exploração petroleira, mas está de olho no
dinheiro. Atualmente se torra a receita do petróleo em gasto corrente, sem
investimento no futuro (na transição verde ou na redução da dívida).
Terceiro, dá grande importância ao plano para
a "nova indústria", para a transição verde, de bioeconomia etc. Algo
andou, picado. Mas não se sabe bem quais são os tais planos.
Quarto, reiterou que é
preciso dar um jeito no gasto tributário de R$ 524 bilhões (isenção de
impostos para cidadãos, empresas e instituições), que "descobriu"
nesta semana. Não se sabe se vai logo se esquecer disso. Porém, é daí que seus
ministros econômicos podem arrumar dinheiro.
Até agora, a Fazenda tapava o que podia do
déficit com aumentos de impostos aos solavancos, tática ferida, talvez de
morte. Mais difícil é inventar uma necessária ofensiva para reduzir o gasto
tributário, um plano maior, debatido e organizado. Passado um terço do governo,
não há plano. No mais, vão ter de contingenciar (suspender) gasto neste ano.
Lula vai aceitar?
Quinto, falou muito de fazer
mais universidade, escola técnica, integral. Falta dinheiro para essas
instituições, Lula quer fazer outras. É um programa de grande interesse dele.
Sexto, estaria para sair a revisão do Plano
Nacional de Segurança Pública, até agora um fracasso do governo. Mesmo nas
entrevistas, Lula se mostrou impaciente com a demora. Diz que vai discutir o
plano com seus ministros ex-governadores e com governadores. Pode ser uma
frente da contraofensiva do governo.
Sétimo, está obcecado com a compra de arroz,
para vendê-lo a R$ 4 o quilo. Houve
"falcatrua" no primeiro leilão (qual?), mas a coisa não vai
parar.
Oitavo, repetiu, como faz desde abril, que
não haveria reforma ministerial.
Nono, mais anedótico, em três entrevistas
voltou a se comparar a Pedro 2º e Getúlio Vargas, os mais longevos no poder.
Próximos dizem que Lula está otimista (mais do que esses assessores). Acha que vai ter muita obra para entregar. E que este tumulto é passageiro.
3 comentários:
Governo irresponsável com as contas públicas, repetindo governo Dilma, mas Lula fica tranquilo porque sabe que a imprensa não vai criticá-lo , está no bolso dele muito bem paga e a justiça sob controle não irá puni ló
Tomara!
A imprensa não vai criticar Lula? kkkk... O anônimo não quer ver que criticar Lula é tudo que a "grande" imprensa faz e quer. Além de anônimo, é pândego! Como outros papagaios bolsonaristas...
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