Folha de S. Paulo
Quando a tecnologia é posta para explorar
vulnerabilidades humanas, a regulação se faz necessária
A ciência pode
ser perigosa. É o que ocorre quando ela é posta para explorar vulnerabilidades
de nossos cérebros e produzir os chamados estímulos supernormais.
Os dias duros do Pleistoceno, durante os quais era difícil conseguir as calorias necessárias para manter-se vivo, nos transformaram em máquinas de procurar gorduras e carboidratos e acumular as sobras na forma de tecido adiposo. Funcionou bem até que inventaram o baconzitos e o cheesecake. A proporção de obesos e diabéticos no planeta explodiu.
Algo parecido vale para drogas.
A destilação do álcool, a biossíntese da cocaína e a produção de maconha com
níveis cada vez mais altos de THC agravaram nossos problemas com essas drogas.
Era difícil tornar-se alcoólatra ou cocainômano consumindo só cerveja pouco
fermentada e chá de folhas de coca.
E a coisa fica pior quando, além de
desenvolver produtos cada vez mais viciantes, empregamos também técnicas de
propaganda cada vez mais sofisticadas para convencer as pessoas a consumi-los.
É o que acontece agora no mundo das apostas. Os
cassinos vieram para os bolsos dos jogadores (celulares), que
ainda têm de lidar com um tipo de publicidade particularmente enganoso, que,
negando o básico da matemática, sugere que as apostas são caminho seguro para o
enriquecimento.
Meus pendores libertários me impedem de defender qualquer tipo de proibição. Já vimos várias vezes que isso não funciona. Mas é perfeitamente possível regular, dando ao consumidor alguma chance de defesa contra os estímulos supernormais reforçados pela publicidade.
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