Jornal do Brasil - terça-feira, 26/12/78
Legenda: Graziela e Gilvan
Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia Marítima às 11 horas
Exilados voltam e passam o
Natal explicando por que voltaram sem passaportes
Fora do país há seis anos,
absolvido em setembro último da acusação de pertencer ao PCB, o ex-funcionário
do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do Panamá com a mulher e os dois filhos,
no domingo e foi preso. A Embaixada do Brasil informara que poderiam
desembarcar só com a carteira de identidade, mas a polícia deteve o casal por
12 horas durante a noite de Natal, para saber porque estavam sem passaportes.
O Sr. Gilvan e D. Graziela
Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da Delegacia de Polícia Marítima,
onde foram interrogados ontem de manhã e liberados depois de preencherem um
questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia,
de 12, foram dispensados pela polícia ainda no aeroporto e ficaram com
parentes.
GARANTIA
Hoje, com 43 anos, o Sr.
Gilvan de Cavalcanti Melo, nascido em Pernambuco, foi demitido do INPS por
decreto baseado no AI-5, em 1972, sob a acusação de pertencer ao Partido
Comunista Brasileiro. Logo após foi com a família para Buenos Aires, Porto
Alegre e finalmente Santiago onde trabalhou na Corporação de Fomento.
Com a derrubada do Governo
Allende, asilaram-se na Embaixada do Panamá, país onde o Sr. Gilvan conseguiu
trabalho numa empresa de administração. Morou durante algum tempo em Cuba que
lhe forneceu documento de identidade.
Ao saber de sua absolvição
em processo na 2ª Auditoria da Marinha em 19 de setembro, o Sr. Gilvan
consultou a Embaixada do Brasil no Panamá e recebeu a garantia de que poderia
voltar normalmente apenas com a carteira de identidade brasileira emitida em 1972
se viajasse por uma empresa aérea brasileira.
A família embarcou num voo
da Varig às 8,43 de domingo e chegou ao Aeroporto Internacional do Rio às
19,50. Levados para a Polícia Marítima e Aérea, o casal e os dois filhos foram
informados de que teriam que prestar depoimentos, por não estarem com passaportes.
Após entendimento com os
policiais, o Sr. Gilvan conseguiu que os filhos fossem liberados, enquanto ele
e a mulher eram levados à sede da Polícia Marítima, na Av. Rodrigues Alves. Ali
passaram a noite do Natal, recostados num sofá. O advogado Humberto Jansen
chegou à delegacia às 7hs, mas só conseguiu liberar o casal, às 11h, depois que
os dois prestaram depoimentos de uma hora cada um.
No questionário tiveram que informar as condições de saída do país, como viviam e onde trabalhavam no exterior e porque voltaram. “Agora o que quero fazer mesmo é assistir um jogo do meu Vasco”, disse o Sr. Gilvan.
3 comentários:
Só quem sentiu na pele o significado de uma ditadura sabe por que repudiar qualquer golpismo e aventuras autocráticas. Minha solidariedade a você e à sua família, Gilvan, pelo que enfrentaram naqueles anos tenebrosos.
E há quem diga que ninguém se exilava em países governados pela esquerda,taí a prova de que não é verdade.
Anos tenebrosos que muitos bolsonaristas adorariam ver voltar e que vários tentaram criminosamente restabelecer! A cadeia é o local em que estes devem estar. Inclusive o ratão-mór, já indiciado mas ainda viajando e MENTINDO livremente por aí...
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