quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Conflito entre Poderes continua. Por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Enterro de PEC fortalece o Supremo, mas paz depende do ‘sepultamento’ do projeto de anistia

Na artilharia barulhenta da guerra entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional, a PEC da Blindagem era apenas um estalinho. Não chega a ser sinal de trégua a decisão do Senado de “sepultar” a proposta. Ironicamente, os parlamentares fizeram isso para se proteger ainda mais.

No caminho em busca do salvo-conduto para não serem processados, deputados e senadores esbarraram nos protestos do último domingo. Diante da voz das ruas, preferiram enterrar a PEC a correr o risco de perderem eleitores no ano que vem.

As bandeiras dos manifestantes coincidiram com os interesses do STF, que acabou fortalecido. As ruas criticaram não apenas a tentativa de autoblindagem dos parlamentares, que esvaziaria o tribunal, mas também o projeto de anistia – uma afronta às condenações dos golpistas.

As manifestações tiveram força para enterrar a blindagem, mas a proposta de anistia continua viva no Congresso. Ainda que tenha perdido fôlego, a ideia não foi abandonada pelos parlamentares mais próximos de Jair Bolsonaro. Na visão de ministros da Corte, enquanto os parlamentares não derem o assunto por encerrado, não é possível hastear a bandeira branca na Praça dos Três Poderes.

Integrantes do tribunal negam qualquer tipo de negociação com o Congresso em torno da anistia. Esperam que os parlamentares desistam da proposta. O objetivo é evitar um julgamento posterior no plenário da Corte sobre a constitucionalidade do perdão a golpistas.

Entre ministros do Supremo, segue a avaliação de que não tem problema o Congresso diminuir a pena dos condenados pelo 8 de Janeiro. Não há negociação, porém, sobre a proposta de redução das penas, ou mesmo o perdão, a quem tramou um golpe. Ou seja: Bolsonaro continuaria condenado a 27 anos e três meses de prisão.

Ao contrário dos parlamentares, ministros do STF não precisam do voto popular para se manterem no cargo. Ainda assim, tiveram a imagem polida nos últimos dias pelas manifestações – e talvez somassem hoje mais eleitores do que alguns parlamentares.

O aval das ruas ao Supremo interrompe uma sequência de protestos da direita que apresentavam os ministros como inimigos do povo. Ao menos por ora, o jogo virou: no domingo, cartazes mostravam políticos de direita habituados a atacar o tribunal como inimigos do povo.

Para completar, o STF foi defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no discurso na Assembleia-Geral da ONU. O contexto era a crise entre Brasil e EUA, que tem o tribunal como um dos elementos. Esse, também, um conflito sem data para terminar. •

 

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