Folha de S. Paulo
Reação de cidadãos que guardam um mínimo de
bom senso e indignação enterrou a PEC da Bandidagem
Esquema mafioso acabou por reaglutinar um sentimento que andava esfarelado havia um bom tempo
A PEC da
Bandidagem serviu não só para expor a desfaçatez de um clã de
deputados que, neste momento, ocupa as cadeiras da Câmara. Num efeito
bumerangue, o esquema mafioso também acabou por reaglutinar um sentimento que
andava esfarelado havia um bom tempo: o poder das ruas.
Os protestos que tomaram cidades do país no domingo (21) e que conseguiram antecipar o enterro do plano infame no Senado não deveriam ser vistos como atos insuflados por esquerda ou direita.
Sob condições normais de temperatura e
pressão, foi uma reação imediata e esperada de qualquer cidadã ou cidadão que
ainda guarda dentro de si um mínimo de bom senso e indignação.
É fato, porém, que a direita travou no sofá
da sala, enclausurada nas quatro paredes de seu próprio extremismo.
Constrangida, não foi capaz, sequer, de se levantar e ir à janela gritar contra
o charlatanismo parlamentar. Viu a banda passar, contando coisas de horror.
A omissão foi calculada. Grande parte dos
deputados que queriam empurrar a PEC criminosa goela abaixo do povo é a mesma
que sequestrou o plenário da Câmara dias atrás, num motim para cobrar a votação
de uma anistia a golpistas condenados.
A direita resolveu, então, de forma
vexatória, usar o reduto das redes sociais para criticar a participação de
artistas nas manifestações, como se arte e cultura não fossem, desde que o
mundo é mundo, parte inerente daquilo que constrói um país, daquilo que ele
pensa, sente, busca. E rejeita.
Há um novo cálculo de rota em andamento.
Passado o tilt sentido por muitos patriotas que, de repente, se viram no
espelho embrulhados numa bandeira americana, já se cobra uma
"resposta".
A despeito de minimizarem as manifestações,
lideranças evangélicas e da direita burilam a ideia de mobilizar um ato
"próprio" em outubro, para mostrar que não estão inertes. A rua é
pública. A ver quais serão as reivindicações. A democracia está aí para isso,
até mesmo para quem, sob o pretexto de defendê-la, ameaça solapá-la.
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