quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Na rua, sempre. Por André Borges

Folha de S. Paulo

Reação de cidadãos que guardam um mínimo de bom senso e indignação enterrou a PEC da Bandidagem

Esquema mafioso acabou por reaglutinar um sentimento que andava esfarelado havia um bom tempo

PEC da Bandidagem serviu não só para expor a desfaçatez de um clã de deputados que, neste momento, ocupa as cadeiras da Câmara. Num efeito bumerangue, o esquema mafioso também acabou por reaglutinar um sentimento que andava esfarelado havia um bom tempo: o poder das ruas.

Os protestos que tomaram cidades do país no domingo (21) e que conseguiram antecipar o enterro do plano infame no Senado não deveriam ser vistos como atos insuflados por esquerda ou direita.

Sob condições normais de temperatura e pressão, foi uma reação imediata e esperada de qualquer cidadã ou cidadão que ainda guarda dentro de si um mínimo de bom senso e indignação.

É fato, porém, que a direita travou no sofá da sala, enclausurada nas quatro paredes de seu próprio extremismo. Constrangida, não foi capaz, sequer, de se levantar e ir à janela gritar contra o charlatanismo parlamentar. Viu a banda passar, contando coisas de horror.

A omissão foi calculada. Grande parte dos deputados que queriam empurrar a PEC criminosa goela abaixo do povo é a mesma que sequestrou o plenário da Câmara dias atrás, num motim para cobrar a votação de uma anistia a golpistas condenados.

A direita resolveu, então, de forma vexatória, usar o reduto das redes sociais para criticar a participação de artistas nas manifestações, como se arte e cultura não fossem, desde que o mundo é mundo, parte inerente daquilo que constrói um país, daquilo que ele pensa, sente, busca. E rejeita.

Há um novo cálculo de rota em andamento. Passado o tilt sentido por muitos patriotas que, de repente, se viram no espelho embrulhados numa bandeira americana, já se cobra uma "resposta".

A despeito de minimizarem as manifestações, lideranças evangélicas e da direita burilam a ideia de mobilizar um ato "próprio" em outubro, para mostrar que não estão inertes. A rua é pública. A ver quais serão as reivindicações. A democracia está aí para isso, até mesmo para quem, sob o pretexto de defendê-la, ameaça solapá-la.

 

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