Folha de S. Paulo
Presidente brasileiro diz que conversa sobre
tudo e até ao vivo e em público com o americano
Comércio, paz e investimentos não vão comover
os EUA, que ainda podem sabotar reunião
Na
entrevista em que deu sobre suas reuniões e discursos na ONU, Luiz
Inácio Lula da
Silva pareceu animadíssimo de conversar com Donald Trump.
Quase não deu pista do que possa ser conversado, até porque o presidente está
deixando estar para ver como é que fica. No máximo, indicou que quer melhorar a
"qualidade" da informação do americano sobre o Brasil, citando
especificamente o caso do saldo comercial, assunto que pouco vai interessar ao
americano.
A respeito de imposto de importação, "tarifas", Lula disse que é direito do americano de se preocupar com empregos e aumentar impostos de importação sobre esse ou aquele produto, "como eu também faço de vez em quando". Mas que é preciso levar em conta a OMC e o multilateralismo.
Trump não quer saber de multilateralismo. Julga-se
imperador do mundo, entende de relações internacionais e que os outros
"países vão para o inferno" não prestando atenção a ele, como disse
no discurso da ONU.
Lula não vai a lugar algum com essa conversa multilateral.
Se a reunião não for cilada, oportunidade
para "bullying" ou coisa pior, a grande questão é o que se pode
oferecer a Trump de modo que ele possa cantar vitória, que possa levar um butim
para casa.
Todos os " problemas" e
"diferenças" vão ser levados para a mesa, sem "limite" ou
"veto" às discussões, a não ser no caso de "soberania" e
"democracia". A "paz no planeta Terra" pode ser assunto,
assim como a guerra na Ucrânia pois, observou Lula, tanto ele quanto Trump são
"amigos" de Vladimir Putin.
Até a noite de terça, não havia aparecido
tuíte dos americanos dizendo "a" ou "não-a" sobre a
entrevista de Lula. Não sabemos, pois, se a animação do presidente brasileiro
vai ser bem recebida ou se a reunião, que já está sendo preparada pelos dois
países, vai ser sabotada pelo departamento de Estado, de Marco Rubio, ou pelo
vice-chefe de gabinete de Trump, Stephen
Miller, ideólogo extremista e feroz de direita.
Mas Lula parecia animado ao ponto de dizer
que pode vir a conversar ao vivo e em público com Trump, pois não vai tratar de
"segredos". "Tenho interesse nessa conversa e espero que ela
aconteça logo".
No meio da lista de interesses mútuos de
conversa, como empresariais ou científicos, citou também "inteligência
artificial" —seria menção à hipótese de discutir
"datacenters" americanos no Brasil? Minérios críticos seriam
assunto? Pode ser, respondeu Lula, assim como pode ser assunto com qualquer
país, desde que exista interesse de investimentos para processar,
industrializar, o recurso natural.
Mas tudo isso, investimento, é bom para o
Brasil e não é acordo sobre o qual Trump possa contar vantagem. Ele precisa de
algo para dizer "lá em casa" e que sirva de demonstração de poder pelo
menos para este canto do mundo que é a América do Sul.
Lula disse que não havia recebido sinais
prévios de aproximação; foi "surpreendido". Encontrou por acaso
Trump, que estava "com uma cara muito simpática, muito agradável", e
lhe estendeu a mão. "Disse ao presidente Trump que não tem limite para a
conversa".
Lula não quis dizer que voltaria aos EUA a
fim de encontrar Trump, até para não criar e "frustrar" expectativas.
Contou apenas que vai voltar para o Brasil e colocar o pessoal (diplomatas dos
dois países) para conversar.
É importante. Além da possibilidade (difícil)
de atenuar riscos de ataques americanos contra o Brasil, pode vir a ser nova
grande derrota dos golpistas.
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