quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Trump e o Brasil. Por William Waack

O Estado de S. Paulo

O presidente dos Estados Unidos ignora estratégias e mesmo ideologias

Não se sabe se Donald Trump almeja “regime change” no Brasil ou só ajudar o amigo Jair Bolsonaro. Até agora, não conseguiu nenhum dos dois.

Ao contrário. O que o relatório do Departamento de Estado americano crítica no “regime” brasileiro prossegue inalterado, mesmo depois da Magnitsky contra Alexandre de Moraes. E Bolsonaro está indo para a prisão.

Pode ser que Trump, que tem infinita convicção sobre a própria genialidade, tenha confundido ambições (mudar o regime e ajudar Bolsonaro) com meios (tarifas e sanções) para alcançá-las. Ou seja, faltou estratégia. Além disso, profissionais da diplomacia nos Estados Unidos e no Brasil, brasileiros e estrangeiros, acham que Trump estava mal informado sobre o Brasil.

A Casa Branca já tomou decisões grotescamente erradas (em função dos próprios objetivos) quando ficou cega por ideologia e confiou em apenas uma fonte – o caso recente mais famoso foi a avaliação política equivocada da situação interna no Iraque antes da invasão de 2003, sustentada em boa parte no que diziam políticos de oposição daquele regime. Que asseguraram ao então presidente que tudo ia ser muito fácil, bastava um empurrãozinho.

O impulso agressivo dos Estados Unidos em relação ao Brasil está ancorado em fatores geopolíticos (competição com a China), mas exibe também o enorme peso dos ideólogos do MAGA, e sua campanha mundial pela “verdadeira direita”. Ocorre que a compreensão dos assessores de Trump sobre o funcionamento do “sistema” brasileiro vem de um setor do bolsonarismo, representado pelo filho Eduardo, cuja visão (para se dar um nome à coisa) é fortemente contestada dentro da própria corrente política.

E, de forma bastante previsível, aconteceu o inverso do que garantia a tosca análise à qual a Casa Branca tem dado ouvidos. O “sistema” no Brasil se solidificou, em vez de se dissolver com medo do poder político, econômico, comercial e até mesmo militar dos Estados Unidos. Fora a confusão na qual foi jogado o espectro de centro-direita.

Trump não está preso nem a uma coisa (uma estratégia articulada) nem a outra (a pureza ideológica da verdadeira direita). Daí a dificuldade de se prever o que pode sair da química recentemente descoberta com Lula, o chefe do regime brasileiro (que ele quer derrubar?). Aparentemente, nem seus secretários adivinham os próximos passos do presidente.

Trump é um narcisista compulsivo preocupado exclusivamente com a própria imagem. Pode assumir posições diametralmente opostas em qualquer assunto, pois é ele que declara as próprias “vitórias”. Que, para ele, são os bons negócios. •

 

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