O Estado de S. Paulo
O presidente dos Estados Unidos ignora estratégias e mesmo ideologias
Não se sabe se Donald Trump almeja “regime
change” no Brasil ou só ajudar o amigo Jair Bolsonaro. Até agora, não conseguiu
nenhum dos dois.
Ao contrário. O que o relatório do
Departamento de Estado americano crítica no “regime” brasileiro prossegue
inalterado, mesmo depois da Magnitsky contra Alexandre de Moraes. E Bolsonaro
está indo para a prisão.
Pode ser que Trump, que tem infinita convicção sobre a própria genialidade, tenha confundido ambições (mudar o regime e ajudar Bolsonaro) com meios (tarifas e sanções) para alcançá-las. Ou seja, faltou estratégia. Além disso, profissionais da diplomacia nos Estados Unidos e no Brasil, brasileiros e estrangeiros, acham que Trump estava mal informado sobre o Brasil.
A Casa Branca já tomou decisões grotescamente
erradas (em função dos próprios objetivos) quando ficou cega por ideologia e
confiou em apenas uma fonte – o caso recente mais famoso foi a avaliação
política equivocada da situação interna no Iraque antes da invasão de 2003,
sustentada em boa parte no que diziam políticos de oposição daquele regime. Que
asseguraram ao então presidente que tudo ia ser muito fácil, bastava um
empurrãozinho.
O impulso agressivo dos Estados Unidos em
relação ao Brasil está ancorado em fatores geopolíticos (competição com a
China), mas exibe também o enorme peso dos ideólogos do MAGA, e sua campanha
mundial pela “verdadeira direita”. Ocorre que a compreensão dos assessores de
Trump sobre o funcionamento do “sistema” brasileiro vem de um setor do
bolsonarismo, representado pelo filho Eduardo, cuja visão (para se dar um nome
à coisa) é fortemente contestada dentro da própria corrente política.
E, de forma bastante previsível, aconteceu o
inverso do que garantia a tosca análise à qual a Casa Branca tem dado ouvidos.
O “sistema” no Brasil se solidificou, em vez de se dissolver com medo do poder
político, econômico, comercial e até mesmo militar dos Estados Unidos. Fora a
confusão na qual foi jogado o espectro de centro-direita.
Trump não está preso nem a uma coisa (uma
estratégia articulada) nem a outra (a pureza ideológica da verdadeira direita).
Daí a dificuldade de se prever o que pode sair da química recentemente
descoberta com Lula, o chefe do regime brasileiro (que ele quer derrubar?).
Aparentemente, nem seus secretários adivinham os próximos passos do presidente.
Trump é um narcisista compulsivo preocupado
exclusivamente com a própria imagem. Pode assumir posições diametralmente
opostas em qualquer assunto, pois é ele que declara as próprias “vitórias”.
Que, para ele, são os bons negócios. •
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