O Estado de S. Paulo
Escolha do lugar da Operação Atlas não foi acidental; Forças Armadas queriam dissuadir ameaças
Quando o Ministério da Defesa decidiu deslocar cerca de 10 mil homens para a região de Roraima para fazer o maior exercício militar deste ano no País, o objetivo oficial de tal movimento era “coletar subsídios para o aperfeiçoamento do Sistema Planejamento de Emprego Conjunto das Forças Armadas, proporcionar a identificação de óbices ao planejamento, à coordenação e à execução do deslocamento estratégico dos meios envolvidos e cooperar com o adestramento das Forças Singulares, em ambiente operacional de selva e de difícil acesso, promovendo a interoperabilidade entre elas”.
O que se criou com a Atlas foi um plano para
a atuação das forças caso seja necessário na região. Não apenas para dissuadir
a ameaça de a Venezuela usar o território de Roraima para invadir a Guiana, mas
também para enfrentar outras ameaças para a segurança do País e demonstrar para
observadores estrangeiros não só o interesse, como a capacidade de mobilização
logística do Brasil para defender a região.
Se a preocupação com Maduro era antiga e vinha desde 2023, quando o ditador de Caracas começou a ameaçar Essequibo em razão do petróleo, a escalada de Trump ao tratar com os governos da Venezuela e de Bogotá criou novo significado para a presença militar brasileira na região. Por enquanto, os americanos estão atacando embarcações em águas internacionais. Foram mortos cidadãos da Colômbia e da Venezuela. Trump diz que seus governos seriam coniventes com o narcotráfico. Se a execução de criminosos sem processo legal é crime em qualquer país do mundo, o que dizer se as bombas americanas matarem pescadores confundidos com traficantes? Ou turistas? Ou ainda se o Comando Sul atingir o território de países como Venezuela, Colômbia e... Brasil?
Em 2023, o Brasil criou o 18.º Regimento de
Cavalaria Mecanizada (18.º RCMec) em Boa Vista e enviou mísseis anticarro Max
1.2 AC para a tropa em Roraima. Era o suficiente para dissuadir Maduro. Mas é
largamente insuficiente para impedir a ação de traficantes de droga pelos rios
da Amazônia. A Defesa sabe o que fazer e tem um plano para o caso de Essequibo.
E para a escalada no Caribe? O Exército ainda aposta em uma solução diplomática
para a região. Enquanto isso, mantém na Amazônia parte das tropas envidas à
Atlas, responsáveis pela defesa antiaérea e pela defesa contra guerra química,
biológica, radiológica e nuclear. Vão ficar lá até a COP-30. Assim como o
porta-helicópteros Atlântico, da Marinha, depois voltam ao Sudeste. A
temperatura geopolítica, no entanto, cada vez mais se aquece no Norte em
relação ao Sul. E, talvez, a resposta do País precise ser maior do que a de um
regimento blindado em Roraima.
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