quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Cláudio Castro deveria ser preso, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Governador confessou ser o autor intelectual dos assassinatos

Matar alguém é potencialmente homicídio e deve ser assim tratado

Por baixo da pilha de mais de cem corpos que sangram nas ruas da Penha e do Alemão, não cabem meias palavras: Cláudio Castro confessou em rede nacional ser o autor intelectual do assassinato de ao menos uma centena de pessoas na ação mais letal da história do estado e, por isso, deveria ser preso imediatamente. Não seria uma novidade: outros cinco ex-governadores do RJ já foram presos por ilícitos bem menores.

Tiro na nuca, nas costas e facadas constituem sinais de execução, e se o Ministério Público não os investigar, conivente será. Faz-se urgente que o STF determine, via ADPF 635, que a Polícia Federal participe das perícias nos corpos, garantindo o respeito a parâmetros como o Protocolo de Minnesota sobre a Investigação de Mortes Potencialmente Ilícitas.

Castro não é diferente do ex-presidente filipino Rodrigo Duterte —hoje preso em Haia— e seus capangas. Após séculos de violência, acostumamo-nos tanto à matança a ponto de esquecermos de chamar as coisas pelos seus nomes. Matar alguém é potencialmente homicídio e deve ser assim tratado. Se as polícias tiveram condições de matar em uma área de mata, possuíam a capacidade de prender e investigar, e escolheram não o fazer.

Não há na lei a categoria de bandido executável. Qualificar mortos como suspeitos serve tão somente para expiar a culpa pequeno-burguesa de parte da população e da imprensa que prefere racionalizar a barbárie e sua sede por sangue do que condená-las. Não são seus filhos que se agacham para se proteger das balas perdidas que sempre os encontram, são os filhos de suas empregadas domésticas, que, eles dizem, bandidos devem mesmo ser.

Além de homicida, o governo de Cláudio Castro é incompetente: Castro precisa explicar por que, apesar de repetidas chacinas, sob o seu governo, o Comando Vermelho foi a única organização criminosa a expandir em 8,4% a sua presença no Rio em 2023. Fato é que operações sangrentas não reduzem nem um centímetro a ocupação territorial de facções criminosas; investigar e prender quem comanda o crime, inclusive dentro do Estado, sim.

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