Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Estados Unidos começam a auditar grandes bancos, meio quebrados, para decidir em quais vai injetar dinheiro
IMAGINEM QUE dúzias de auditores do Banco Central baixassem em todos os maiores bancos do Brasil. Que fizessem tal coisa um dia depois de o ministro da Fazenda ter dito que o governo faria auditorias para saber qual deles estava à beira da morte. Que, feita a auditoria, os bancos receberiam algum empréstimo do governo, um "capital tampão" para os rombos presentes e futuros. Que tal empréstimo pode ser convertido em ações do banco em estado de risco falimentar.
A auditoria em massa parece ter começado na quarta-feira para os maiores bancos americanos, segundo o "New York Times". Cerca de cem agentes de supervisão bancária baixaram no Citigroup. Outras "dúzias" foram investigar as contas de Bank of America, JPMorgan e mais 15 grandes bancos, perfazendo 18 no total. O governo, pois, não acredita que tais bancos tenham capital suficiente. Duvida dos seus balanços.
E daí? Sem resolver o descalabro dos bancos americanos e europeus, a seca de crédito mundial vai se transformar num Saara financeiro. A seca que começou em setembro de 2008 já foi bastante para derrubar a economia brasileira e mundial.
O secretário do Tesouro, o ministro da Fazenda deles, Timothy Geithner, dissera no anúncio de seu plano de socorro que os bancos passariam por um "teste de estresse" (uma auditoria para saber de quanto precisam para não falir caso percam mais dinheiro, dados tais e quais cenários econômicos até 2010).
O plano de Geithner era também "aumentar a transparência": checar o valor dos títulos e empréstimos dos bancos, muitos deles agora podres. Com tal transparência e com o empréstimo tampão do governo, diz Geithner, os bancos seriam "encorajados" a arrumar capital privado (é o que diz seu plano de sete páginas). De onde virá dinheiro privado, porém, se ficar evidente que os bancos estavam quase insolventes, que têm pouco para emprestar e que não vão pagar dividendos (outra condição do pacote de socorro)?
O "teste de estresse" suscita ainda uma grande curiosidade. O plano Paulson-Bush de compra de papéis podres dos bancos foi à breca entre outros motivos porque ninguém sabia como avaliar o preço de tais ativos. Portanto, ninguém sabia ou sabe bem o tamanho do rombo nos balanços. Como fazer "testes de estresse" sem dar um preço a tais papéis?
De resto, se algo nisso tudo faz sentido, bancos que não passarem no "teste de estresse" serão: a) parcial ou totalmente estatizados ou b) receberão empréstimos camaradas do governo Barack Obama, incondicionalmente. Sim, pois, se houver condições, tal como alguma interferência do governo na gestão, haveria estatização de fato, mas disfarçada.
Mas, na noite de terça, após o anúncio do plano Geithner, Obama havia dito em entrevista à TV ABC que ele e equipe avaliaram que estatizar não era uma boa solução, pois os EUA têm milhares de bancos e que estatizar não é uma tradição do país (mas tradições se inventam).
Um desses investidores habitualmente ouvidos pela reportagem de finanças dizia pitorescamente ontem à Bloomberg que "há profundo cinismo no mercado a respeito do que está acontecendo, e em Washington o pessoal sabe tanto o que fazer como uma cabra". Pois é.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Estados Unidos começam a auditar grandes bancos, meio quebrados, para decidir em quais vai injetar dinheiro
IMAGINEM QUE dúzias de auditores do Banco Central baixassem em todos os maiores bancos do Brasil. Que fizessem tal coisa um dia depois de o ministro da Fazenda ter dito que o governo faria auditorias para saber qual deles estava à beira da morte. Que, feita a auditoria, os bancos receberiam algum empréstimo do governo, um "capital tampão" para os rombos presentes e futuros. Que tal empréstimo pode ser convertido em ações do banco em estado de risco falimentar.
A auditoria em massa parece ter começado na quarta-feira para os maiores bancos americanos, segundo o "New York Times". Cerca de cem agentes de supervisão bancária baixaram no Citigroup. Outras "dúzias" foram investigar as contas de Bank of America, JPMorgan e mais 15 grandes bancos, perfazendo 18 no total. O governo, pois, não acredita que tais bancos tenham capital suficiente. Duvida dos seus balanços.
E daí? Sem resolver o descalabro dos bancos americanos e europeus, a seca de crédito mundial vai se transformar num Saara financeiro. A seca que começou em setembro de 2008 já foi bastante para derrubar a economia brasileira e mundial.
O secretário do Tesouro, o ministro da Fazenda deles, Timothy Geithner, dissera no anúncio de seu plano de socorro que os bancos passariam por um "teste de estresse" (uma auditoria para saber de quanto precisam para não falir caso percam mais dinheiro, dados tais e quais cenários econômicos até 2010).
O plano de Geithner era também "aumentar a transparência": checar o valor dos títulos e empréstimos dos bancos, muitos deles agora podres. Com tal transparência e com o empréstimo tampão do governo, diz Geithner, os bancos seriam "encorajados" a arrumar capital privado (é o que diz seu plano de sete páginas). De onde virá dinheiro privado, porém, se ficar evidente que os bancos estavam quase insolventes, que têm pouco para emprestar e que não vão pagar dividendos (outra condição do pacote de socorro)?
O "teste de estresse" suscita ainda uma grande curiosidade. O plano Paulson-Bush de compra de papéis podres dos bancos foi à breca entre outros motivos porque ninguém sabia como avaliar o preço de tais ativos. Portanto, ninguém sabia ou sabe bem o tamanho do rombo nos balanços. Como fazer "testes de estresse" sem dar um preço a tais papéis?
De resto, se algo nisso tudo faz sentido, bancos que não passarem no "teste de estresse" serão: a) parcial ou totalmente estatizados ou b) receberão empréstimos camaradas do governo Barack Obama, incondicionalmente. Sim, pois, se houver condições, tal como alguma interferência do governo na gestão, haveria estatização de fato, mas disfarçada.
Mas, na noite de terça, após o anúncio do plano Geithner, Obama havia dito em entrevista à TV ABC que ele e equipe avaliaram que estatizar não era uma boa solução, pois os EUA têm milhares de bancos e que estatizar não é uma tradição do país (mas tradições se inventam).
Um desses investidores habitualmente ouvidos pela reportagem de finanças dizia pitorescamente ontem à Bloomberg que "há profundo cinismo no mercado a respeito do que está acontecendo, e em Washington o pessoal sabe tanto o que fazer como uma cabra". Pois é.
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