Denise Chrispim Marin
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Líderes latino-americanos elogiam disposição de Obama de tentar mudar relação de Washington com vizinhos
Mesmo diante da ameaça de veto à declaração final, a 5ª Cúpula das Américas foi marcada ontem por um clima de conciliação inédito entre a América Latina e os EUA. A peça central dessa mudança foi Barack Obama, presidente americano há 90 dias, que levou a Trinidad e Tobago uma disposição sem precedentes em ouvir os colegas latino-americanos e falar em cooperação, em vez de impor a visão da Casa Branca.
Os sinais de conciliação surgiram logo pela manhã, quando ele se reuniu com líderes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) e reforçou o novo estilo de liderança dos EUA. Diplomatas brasileiros comentaram que até os agentes de segurança americanos estavam menos truculentos. No fim do dia, Obama anunciou inclusive a liberação de um fundo de US$ 100 milhões para microcrédito na região, em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
"Obama teve uma atitude franca e amistosa", disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Houve um diálogo e não uma sucessão de monólogos."
Obama não ficou constrangido nem mesmo quando abordado sobre temas delicados. Ao contrário, desarmou os espíritos incendiários, como o do impulsivo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e ditou o tom de concórdia que prevaleceu na conversa a portas fechadas.
O mesmo comportamento foi observado nos demais encontros de Obama com os países centro-americanos e nas sessões plenárias da cúpula. As divergências foram expostas em tom cordial, segundo o chanceler brasileiro, e respondidas da mesma forma.
"O presidente Chávez, surpreendentemente, fez um discurso curto e cordial", analisou Amorim. O tom amistoso foi mantido até mesmo quando os líderes sul-americanos tocaram na questão mais delicada da cúpula: as relações dos EUA com Cuba, assunto que pode levar a Venezuela a vetar o texto final da declaração.
Ao avaliar o significado do encontro, Amorim deixou escapar que a Unasul foi aceita e percebida como um fórum importante pelo governo americano. A bênção de Washington era rechaçada por alguns líderes da região, entre os quais Chávez.
Questionado se a região deixara de ser vista pelos EUA como um conjunto de "repúblicas de bananas", Amorim disse que o termo deveria ser aposentado e ficar "restrito aos filmes de Woody Allen" - em 1971, o diretor americano lançou a comédia Bananas, na qual satirizava os movimentos revolucionários da esquerda latino-americana.
"Nós somos agora as repúblicas do software, dos aviões a jato. O fato de os EUA aceitarem negociar com a Unasul, com o Caricom (Comunidade Caribenha) e com os países centro-americanos é uma coisa nova", disse o chanceler. "Isso mostra que essas instâncias regionais foram aceitas. É um sinal de respeito."
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Líderes latino-americanos elogiam disposição de Obama de tentar mudar relação de Washington com vizinhos
Mesmo diante da ameaça de veto à declaração final, a 5ª Cúpula das Américas foi marcada ontem por um clima de conciliação inédito entre a América Latina e os EUA. A peça central dessa mudança foi Barack Obama, presidente americano há 90 dias, que levou a Trinidad e Tobago uma disposição sem precedentes em ouvir os colegas latino-americanos e falar em cooperação, em vez de impor a visão da Casa Branca.
Os sinais de conciliação surgiram logo pela manhã, quando ele se reuniu com líderes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) e reforçou o novo estilo de liderança dos EUA. Diplomatas brasileiros comentaram que até os agentes de segurança americanos estavam menos truculentos. No fim do dia, Obama anunciou inclusive a liberação de um fundo de US$ 100 milhões para microcrédito na região, em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
"Obama teve uma atitude franca e amistosa", disse o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Houve um diálogo e não uma sucessão de monólogos."
Obama não ficou constrangido nem mesmo quando abordado sobre temas delicados. Ao contrário, desarmou os espíritos incendiários, como o do impulsivo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e ditou o tom de concórdia que prevaleceu na conversa a portas fechadas.
O mesmo comportamento foi observado nos demais encontros de Obama com os países centro-americanos e nas sessões plenárias da cúpula. As divergências foram expostas em tom cordial, segundo o chanceler brasileiro, e respondidas da mesma forma.
"O presidente Chávez, surpreendentemente, fez um discurso curto e cordial", analisou Amorim. O tom amistoso foi mantido até mesmo quando os líderes sul-americanos tocaram na questão mais delicada da cúpula: as relações dos EUA com Cuba, assunto que pode levar a Venezuela a vetar o texto final da declaração.
Ao avaliar o significado do encontro, Amorim deixou escapar que a Unasul foi aceita e percebida como um fórum importante pelo governo americano. A bênção de Washington era rechaçada por alguns líderes da região, entre os quais Chávez.
Questionado se a região deixara de ser vista pelos EUA como um conjunto de "repúblicas de bananas", Amorim disse que o termo deveria ser aposentado e ficar "restrito aos filmes de Woody Allen" - em 1971, o diretor americano lançou a comédia Bananas, na qual satirizava os movimentos revolucionários da esquerda latino-americana.
"Nós somos agora as repúblicas do software, dos aviões a jato. O fato de os EUA aceitarem negociar com a Unasul, com o Caricom (Comunidade Caribenha) e com os países centro-americanos é uma coisa nova", disse o chanceler. "Isso mostra que essas instâncias regionais foram aceitas. É um sinal de respeito."
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