DEU EM O GLOBO
Governo golpista ignora pressão internacional pela volta de Zelaya e OEA adverte sobre risco de guerra civil
Governo golpista ignora pressão internacional pela volta de Zelaya e OEA adverte sobre risco de guerra civil
TEGUCIGALPA. Após o fracasso das negociações no fim de semana, as pressões sobre o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, para devolver o governo ao presidente deposto José Manuel Zelaya cresceram ontem depois que a União Europeia anunciou o congelamento de ajuda econômica ao país, estimada em mais de 65 milhões, e líderes da América Latina e dos Estados Unidos criticaram o governo golpista, alertando sobre o risco de um derramamento de sangue. Mas Micheletti ignorou os apelos e disse que não permitiria a volta de Zelaya a Honduras, que está programada para ocorrer no próximo fim de semana.
- Minha posição é indeclinável - anunciou Micheletti num ato público. - Queremos demonstrar ao mundo inteiro que não temos dinheiro, não temos petróleo, não temos dólares, mas temos uma enorme vontade de sustentar essa situação.
Micheletti sugere a Hillary que mande enviado ao país
O comentário foi feito mesmo depois de uma enxurrada de críticas vindas da comunidade internacional. No fim de semana, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, telefonou para Micheletti para alertá-lo sobre as consequências que ele enfrentará se ignorar a mediação internacional sobre a crise. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, pediu ontem paciência aos seguidores de Zelaya, e reconheceu que uma guerra civil pode ser inevitável se o governo interino não mostrar flexibilidade. E, de Washington, o embaixador brasileiro na OEA, Ruy Casaes, criticou o regime interino e cumprimentou Zelaya por dar "mostras de consciência democrática".
- A pressão internacional deve continuar e até aumentar. Espero que os países-membros revejam profundamente suas relações com Honduras, aumentando a pressão internacional - afirmou o diplomata brasileiro.
Ao comentar ontem o pedido de Hillary, Micheletti disse ter sugerido que ela mandasse um enviado a Honduras para verificar que seu governo não está perseguindo oponentes.
- Pedi que mandasse alguém de sua confiança para dizer se é verdade que as pessoas estão sendo mortas o tempo todo - disse.
No dia 5 de julho, quando Zelaya tentou voltar do exílio e foi impedido de pousar no país, um manifestante morreu num protesto.
A suspensão da ajuda financeira anunciada pela Comissão Europeia é estimada em dezenas de milhões de euros. Entre 2007 e 2010, a ajuda foi de 65,5 milhões (US$92,7 milhões). A medida se soma ao congelamento de créditos do Banco Mundial que somam US$200 milhões e da ajuda militar de US$16,5 milhões dos EUA.
Manifestantes prometem subir o tom em protestos
Os esforços para encerrar a crise política do país caíram num impasse no fim de semana depois que Micheletti rejeitou uma proposta apresentada pelo mediador do conflito, o Nobel da Paz e presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Pelo acordo, que foi aceito por Zelaya, o presidente deposto seria restituído ao cargo, embora cedendo uma parcela de seu poder a rivais políticos e abrindo mão de seu projeto de reeleição, detonador do golpe. Arias pedira às partes um novo prazo até amanhã para negociar uma solução.
Seguidores de Zelaya voltaram ontem às ruas para protestar contra o golpe, ocorrido há três semanas. Até agora, os protestos foram pacíficos, mas os manifestantes prometem subir o tom, o que Arias teme fazer com que a pior crise da América Central dos últimos 20 anos termine num banho de sangue.
- Aqui ninguém se rende, estamos começando. Agora são protestos pacíficos, mas não se pode descartar que a questão chegue a males maiores - disse o líder sindical Wilfredo Moncado, de 59 anos, funcionário de uma engarrafadora.
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