Aspásia Camargo
DEU EM O GLOBO
Neste mundo de coisas efêmeras e valor relativo, as lições de vida deixadas por pessoas como o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, devem ser enaltecidas para a preservação da nossa própria essência humana. A criação do Mapa da Fome, ponto de partida para todas as ações governamentais de combate à pobreza, desde a gestão Itamar Franco, é um marco histórico. Antigos paradigmas foram quebrados, como aqueles que condicionavam o pobre a votar no “coronel” para continuar recebendo sua cota de ração diária. Por isso, independentemente de quem seja o próximo presidente, o programa Bolsa Família continuará.
Betinho viveu pela causa de diminuir o número de pessoas que passam fome, aumentar e baratear a produção de alimentos e reduzir a pobreza, discurso que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, tomou emprestado. A diferença é que o sociólogo jamais cogitou alcançar tal objetivo à custa da devastação do ecossistema. Sua bandeira sempre foi a reforma agrária — para a qual o setor de agronegócio sempre torce o nariz.
O Código Florestal em vigor não tira alimento da mesa do brasileiro, como afirmam aqueles que querem passar a motosserra no principal instrumento de defesa ambiental. Para que o debate se estabeleça em níveis elevados, é preciso que haja pelo menos honestidade e clareza sobre os interesses dos atores envolvidos.
A agricultura familiar, que é aquela que coloca arroz, feijão e farinha nas nossas mesas, em nada se assemelha àquela que envolve máquinas gigantescas para a colheita de soja e cana de açúcar, culturas que precisam de vastos territórios e deixam sempre um legado de destruição e pobreza.
O modelo agrícola mecanizado, concentrado nas mãos de grandes corporações, condenará milhões de brasileiros à pobreza, mesmo que não haja mais nenhuma árvore nativa em pé. Querem um exemplo? Basta ver o que acontece em Campos, onde os usineiros circulam a bordo de possantes caminhonetes importadas, enquanto jovens que poderiam estar na escola passam mais de 10 horas cortando cana em troca de um salário miserável.
Ao reivindicar o papel de protagonista nas discussões sobre o uso dos recursos naturais, evocando os números do setor, a senadora Kátia Abreu não percebe que todos nós, que habitamos este planeta, somos meros coadjuvantes. Protagonistas são aqueles que virão depois de nós.
Se a reforma do Código Florestal, defendida pela CNA, garante que nenhuma árvore será cortada, certeza mesmo teremos se ele (o código) for mantido na forma em que se encontra.
Aspásia Camargo é vereadora (PV) no Rio.
DEU EM O GLOBO
Neste mundo de coisas efêmeras e valor relativo, as lições de vida deixadas por pessoas como o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, devem ser enaltecidas para a preservação da nossa própria essência humana. A criação do Mapa da Fome, ponto de partida para todas as ações governamentais de combate à pobreza, desde a gestão Itamar Franco, é um marco histórico. Antigos paradigmas foram quebrados, como aqueles que condicionavam o pobre a votar no “coronel” para continuar recebendo sua cota de ração diária. Por isso, independentemente de quem seja o próximo presidente, o programa Bolsa Família continuará.
Betinho viveu pela causa de diminuir o número de pessoas que passam fome, aumentar e baratear a produção de alimentos e reduzir a pobreza, discurso que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, tomou emprestado. A diferença é que o sociólogo jamais cogitou alcançar tal objetivo à custa da devastação do ecossistema. Sua bandeira sempre foi a reforma agrária — para a qual o setor de agronegócio sempre torce o nariz.
O Código Florestal em vigor não tira alimento da mesa do brasileiro, como afirmam aqueles que querem passar a motosserra no principal instrumento de defesa ambiental. Para que o debate se estabeleça em níveis elevados, é preciso que haja pelo menos honestidade e clareza sobre os interesses dos atores envolvidos.
A agricultura familiar, que é aquela que coloca arroz, feijão e farinha nas nossas mesas, em nada se assemelha àquela que envolve máquinas gigantescas para a colheita de soja e cana de açúcar, culturas que precisam de vastos territórios e deixam sempre um legado de destruição e pobreza.
O modelo agrícola mecanizado, concentrado nas mãos de grandes corporações, condenará milhões de brasileiros à pobreza, mesmo que não haja mais nenhuma árvore nativa em pé. Querem um exemplo? Basta ver o que acontece em Campos, onde os usineiros circulam a bordo de possantes caminhonetes importadas, enquanto jovens que poderiam estar na escola passam mais de 10 horas cortando cana em troca de um salário miserável.
Ao reivindicar o papel de protagonista nas discussões sobre o uso dos recursos naturais, evocando os números do setor, a senadora Kátia Abreu não percebe que todos nós, que habitamos este planeta, somos meros coadjuvantes. Protagonistas são aqueles que virão depois de nós.
Se a reforma do Código Florestal, defendida pela CNA, garante que nenhuma árvore será cortada, certeza mesmo teremos se ele (o código) for mantido na forma em que se encontra.
Aspásia Camargo é vereadora (PV) no Rio.
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