Antes de se eleger, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarou quatro campanhas eleitorais.
Ele tem muito a transmitir para adestrar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), se é que já não o fez. Entre outras coisas, que não se chega lá pelo caminho do atrito, da arrogância, da prepotência e da humilhação de subalternos. O destempero de Dilma é a alegria dos petistas que nunca engoliram o fato de a candidatura presidencial da ministra ser uma escolha solitária de Lula.
Dilma não é e nunca foi uma flor de delicadeza. Como ela mesma diz, é apenas uma mulher "exigente" e que cobra responsabilidade dos auxiliares. Mas também nunca foi a motosserra botocuda que vez por outra emerge do noticiário. Entre amigos de Lula circula que o humor da ministra foi afetado pelo tratamento quimioterápico. É consensual que ela precisa mudar se quiser ser a primeira mulher presidente do Brasil.
O temperamento da ministra, candidata de Lula e do PT à Presidência em 2010, preocupa PT e aliados.
O esculacho que levou à demissão do secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional Luiz Antônio Eira é apenas o mais recente da lista. Já se noticiou que o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) foi destratado na frente de dois governadores tucanos, e que o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, teria chorado após uma reprimenda da ministra. Esses, além de outros técnicos menos cotados do setor elétrico.
No caso de Eiras, a Casa Civil se viu obrigada a dar uma satisfação: além de um comentário bem humorado, Dilma teria "simplesmente" cobrado o auxiliar a seu estilo; nunca tivera a intenção de ofender o ex-secretário (sabe-se que ela depois telefonou duas vezes para Eiras, mas ele não atendeu).
O fato é que Eiras pediu demissão e isso criou mal-estar no ministério. E a imagem de que Dilma é uma mulher que humilha as pessoas, não mede as palavras e não se importa com o lugar em que está para avacalhar com alguém. Um comportamento que realmente estabelece alguma restrição a sua candidatura dentro do PT.
Fora do discurso oficial, Dilma já é considerada uma candidata pesada. Os quase 20% a que chegou nas pesquisas não são dela, são de Lula. Muitos dos pontos que estão por vir ainda serão do presidente e da máquina (especialistas estimam um teto de 30%). O restante é a candidata que terá de buscar no mercado.
Com todos esses problemas, Dilma precisa resgatar aquela obrigação militante nata do petista, fazer com que as pessoas sintam prazer em fazer sua campanha. Mas o que os companheiros veem é a ministra percorrer o caminho inverso.
O que petistas esperam é que Lula chame a ministra para uma conversa, se isso já não foi feito, e fale, do alto de suas cinco campanhas: "Manera! Você vai precisar de muita gente na sua campanha. As pessoas têm que fazer com gosto (a campanha). Ninguém chega à Presidência sem uma infinita paciência".
Dilma terá de mudar porque, caso contrário, haverá crise no PT. A não ser que Lula tenha mesmo inventado uma candidatura para perder, como há quem desconfie no partido e entre aliados. Mas como a maioria acha que o presidente quer mesmo ganhar a eleição, é o caso dele conversar com Dilma, contar que foi quatro vezes candidato antes de levar a Presidência, por isso sabe como funciona uma campanha, quando a função do candidato é somar e não dividir. Em campanha não se faz inimigo.
Dilma precisa compreender que tudo o que ela fizer de bom levará dez anos para se espalhar, se tornar do conhecimento de todos. Mas tudo o que ela fizer de ruim em pouco tempo estará na boca do povo, ainda mais em Brasília, uma cidade de muros baixos. E que, daqui em diante, sua vida vai ser uma vitrine.
Como foi Lula que escolheu Dilma Rousseff (que, aliás, não tem origem no petismo) candidata , em decisão pessoal num partido habituado a decisões colegiadas, há gente no PT atrás de um pretexto, por menor que seja, para tentar emparedar o presidente e ver a banda passar sem a presença dele. Essa gente está calada por conta da popularidade de Lula.
Se a situação não se resolver, é improvável que fique por isso mesmo. O que o lulismo não parece disposto a aceitar é que, com todas as dificuldades que espera encontrar na campanha, ainda tenha de conviver com gente resmungando pelos corredores e ter de apagar um incêndio por semana.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
Dilma não é e nunca foi uma flor de delicadeza. Como ela mesma diz, é apenas uma mulher "exigente" e que cobra responsabilidade dos auxiliares. Mas também nunca foi a motosserra botocuda que vez por outra emerge do noticiário. Entre amigos de Lula circula que o humor da ministra foi afetado pelo tratamento quimioterápico. É consensual que ela precisa mudar se quiser ser a primeira mulher presidente do Brasil.
O temperamento da ministra, candidata de Lula e do PT à Presidência em 2010, preocupa PT e aliados.
O esculacho que levou à demissão do secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional Luiz Antônio Eira é apenas o mais recente da lista. Já se noticiou que o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) foi destratado na frente de dois governadores tucanos, e que o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, teria chorado após uma reprimenda da ministra. Esses, além de outros técnicos menos cotados do setor elétrico.
No caso de Eiras, a Casa Civil se viu obrigada a dar uma satisfação: além de um comentário bem humorado, Dilma teria "simplesmente" cobrado o auxiliar a seu estilo; nunca tivera a intenção de ofender o ex-secretário (sabe-se que ela depois telefonou duas vezes para Eiras, mas ele não atendeu).
O fato é que Eiras pediu demissão e isso criou mal-estar no ministério. E a imagem de que Dilma é uma mulher que humilha as pessoas, não mede as palavras e não se importa com o lugar em que está para avacalhar com alguém. Um comportamento que realmente estabelece alguma restrição a sua candidatura dentro do PT.
Fora do discurso oficial, Dilma já é considerada uma candidata pesada. Os quase 20% a que chegou nas pesquisas não são dela, são de Lula. Muitos dos pontos que estão por vir ainda serão do presidente e da máquina (especialistas estimam um teto de 30%). O restante é a candidata que terá de buscar no mercado.
Com todos esses problemas, Dilma precisa resgatar aquela obrigação militante nata do petista, fazer com que as pessoas sintam prazer em fazer sua campanha. Mas o que os companheiros veem é a ministra percorrer o caminho inverso.
O que petistas esperam é que Lula chame a ministra para uma conversa, se isso já não foi feito, e fale, do alto de suas cinco campanhas: "Manera! Você vai precisar de muita gente na sua campanha. As pessoas têm que fazer com gosto (a campanha). Ninguém chega à Presidência sem uma infinita paciência".
Dilma terá de mudar porque, caso contrário, haverá crise no PT. A não ser que Lula tenha mesmo inventado uma candidatura para perder, como há quem desconfie no partido e entre aliados. Mas como a maioria acha que o presidente quer mesmo ganhar a eleição, é o caso dele conversar com Dilma, contar que foi quatro vezes candidato antes de levar a Presidência, por isso sabe como funciona uma campanha, quando a função do candidato é somar e não dividir. Em campanha não se faz inimigo.
Dilma precisa compreender que tudo o que ela fizer de bom levará dez anos para se espalhar, se tornar do conhecimento de todos. Mas tudo o que ela fizer de ruim em pouco tempo estará na boca do povo, ainda mais em Brasília, uma cidade de muros baixos. E que, daqui em diante, sua vida vai ser uma vitrine.
Como foi Lula que escolheu Dilma Rousseff (que, aliás, não tem origem no petismo) candidata , em decisão pessoal num partido habituado a decisões colegiadas, há gente no PT atrás de um pretexto, por menor que seja, para tentar emparedar o presidente e ver a banda passar sem a presença dele. Essa gente está calada por conta da popularidade de Lula.
Se a situação não se resolver, é improvável que fique por isso mesmo. O que o lulismo não parece disposto a aceitar é que, com todas as dificuldades que espera encontrar na campanha, ainda tenha de conviver com gente resmungando pelos corredores e ter de apagar um incêndio por semana.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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