José Pastore
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Tenho acompanhado a grande discussão sobre as medidas para a limpeza do planeta, de olho no que vai acontecer com a oferta de empregos. Até o momento, vinha lendo as previsões das organizações mais ligadas ao mundo do trabalho, dentre elas, a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os trabalhos que li nesse campo me convenceram que as medidas para reduzir o CO2 e criar um ambiente mais limpo serão bastante benéficas para a geração de empregos ao longo dos próximos 20 anos. Dentre eles, tem especial destaque o Green Jobs: Towards Decent Work in a Sustainable, Low-Carbon World, publicado pela ONU e pela OIT em 2008. Só para a implantação de fontes de energia renováveis, o estudo registra que 2,3 milhões de empregos já foram gerados e muitos mais virão.
A eliminação dos combustíveis poluentes e o reaparelhamento dos veículos de transporte abrem, igualmente, imensas oportunidades de emprego, na medida em que isso envolve uma revolução nas tecnologias de produção de carros, ônibus, aviões, etc. A reforma dos edifícios, da mesma forma, tende a gerar milhões de empregos para que casas e prédios venham a ser poupadores de energia e usuários de fontes limpas. Só para a União Europeia, prevê-se mais de 2 milhões de empregos até 2030!
Na agricultura e no reflorestamento, então, nem se fala. Hoje 1,3 bilhão de pessoas que trabalham nessas atividades terão de passar por profundas transformações. Os números projetados para novos empregos são colossais.
Esse meu entusiasmo, porém, acaba de tomar uma ducha de água fria ao ler o documento do The Property and Environment Research Center, Seven Myths about Green Jobs, Bozeman, Montana, 2009. O relatório critica severamente a metodologia utilizada pela literatura sobre os empregos verdes, inclusive o citado estudo da ONU e da OIT, assim como contesta frontalmente as decisões tomadas pelo presidente Barack Obama ao alocar bilhões de dólares em programas de novas energias com a esperança de desaquecer o planeta e criar milhões de empregos.
Os seus autores afirmam que as projeções são exageradas, sendo, muitas delas, baseadas em mitos, em modelos muito pobres e em pressupostos irrealistas.
A crítica é dura. Quando examinada com cuidado, dizem os autores, a literatura sobre a explosão dos empregos verdes está repleta de contradições, terminologia vaga, ciência duvidosa e um completo desprezo pelos princípios básicos da economia.
Para ilustrar o forte ataque, selecionei alguns dos seus argumentos. Um deles diz respeito à desconsideração da possibilidade de aperfeiçoamento das tecnologias atuais. Os autores ponderam que essas tecnologias podem muito bem ser modificadas ao longo dos próximos anos, dispensando, assim, a introdução de outras.
Uma outra crítica se refere à desconsideração do custo de oportunidade dos imensos recursos que terão de ser usados para descarbonizar o planeta. É o caso da maioria dos empregos ligados à energia solar e eólica que decorrem de pesados subsídios - que terão de ser pagos pelos contribuintes. Os 50 mil empregos criados nesses campos na Espanha demandaram um investimento (subsidiado) de US$ 38 bilhões, ou seja, a exorbitante quantia de US$ 760 mil por emprego.
Mais. Nos Estados Unidos, a produção de energia produzida pelo vento deverá aumentar 20% até 2030, mas a sua contribuição será de um aumento de apenas 1,1% do total de energia gerada naquele ano, em todo o país. Além disso, trata-se de uma energia pouco confiável uma vez que os ventos são inconstantes e eletricidade produzida não pode ser estocada.
E assim o estudo vai dissecando previsão por previsão, tornando todas muito incertas.
É claro que a monumental tarefa de desaquecer a Terra vai demandar muito trabalho, criando muitos empregos. Mas, ao que parece, estamos longe de poder quantificá-los com precisão e muito menos de antecipar o tipo de qualificação que vão requerer - sem falar nos postos de trabalho (atuais) que serão destruídos em decorrência da própria limpeza do planeta.
Um pouco de prudência não fará mal aos que projetam melhorias automáticas na oferta de emprego. Vou estudar melhor o tema já que estamos nas vésperas da reunião de Copenhagen (7 a 18 de dezembro de 2009), que tem o objetivo de estabelecer metas para o controle das mudanças do clima.
*José Pastore é professor de relações do trabalho da FEA-USP.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Tenho acompanhado a grande discussão sobre as medidas para a limpeza do planeta, de olho no que vai acontecer com a oferta de empregos. Até o momento, vinha lendo as previsões das organizações mais ligadas ao mundo do trabalho, dentre elas, a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os trabalhos que li nesse campo me convenceram que as medidas para reduzir o CO2 e criar um ambiente mais limpo serão bastante benéficas para a geração de empregos ao longo dos próximos 20 anos. Dentre eles, tem especial destaque o Green Jobs: Towards Decent Work in a Sustainable, Low-Carbon World, publicado pela ONU e pela OIT em 2008. Só para a implantação de fontes de energia renováveis, o estudo registra que 2,3 milhões de empregos já foram gerados e muitos mais virão.
A eliminação dos combustíveis poluentes e o reaparelhamento dos veículos de transporte abrem, igualmente, imensas oportunidades de emprego, na medida em que isso envolve uma revolução nas tecnologias de produção de carros, ônibus, aviões, etc. A reforma dos edifícios, da mesma forma, tende a gerar milhões de empregos para que casas e prédios venham a ser poupadores de energia e usuários de fontes limpas. Só para a União Europeia, prevê-se mais de 2 milhões de empregos até 2030!
Na agricultura e no reflorestamento, então, nem se fala. Hoje 1,3 bilhão de pessoas que trabalham nessas atividades terão de passar por profundas transformações. Os números projetados para novos empregos são colossais.
Esse meu entusiasmo, porém, acaba de tomar uma ducha de água fria ao ler o documento do The Property and Environment Research Center, Seven Myths about Green Jobs, Bozeman, Montana, 2009. O relatório critica severamente a metodologia utilizada pela literatura sobre os empregos verdes, inclusive o citado estudo da ONU e da OIT, assim como contesta frontalmente as decisões tomadas pelo presidente Barack Obama ao alocar bilhões de dólares em programas de novas energias com a esperança de desaquecer o planeta e criar milhões de empregos.
Os seus autores afirmam que as projeções são exageradas, sendo, muitas delas, baseadas em mitos, em modelos muito pobres e em pressupostos irrealistas.
A crítica é dura. Quando examinada com cuidado, dizem os autores, a literatura sobre a explosão dos empregos verdes está repleta de contradições, terminologia vaga, ciência duvidosa e um completo desprezo pelos princípios básicos da economia.
Para ilustrar o forte ataque, selecionei alguns dos seus argumentos. Um deles diz respeito à desconsideração da possibilidade de aperfeiçoamento das tecnologias atuais. Os autores ponderam que essas tecnologias podem muito bem ser modificadas ao longo dos próximos anos, dispensando, assim, a introdução de outras.
Uma outra crítica se refere à desconsideração do custo de oportunidade dos imensos recursos que terão de ser usados para descarbonizar o planeta. É o caso da maioria dos empregos ligados à energia solar e eólica que decorrem de pesados subsídios - que terão de ser pagos pelos contribuintes. Os 50 mil empregos criados nesses campos na Espanha demandaram um investimento (subsidiado) de US$ 38 bilhões, ou seja, a exorbitante quantia de US$ 760 mil por emprego.
Mais. Nos Estados Unidos, a produção de energia produzida pelo vento deverá aumentar 20% até 2030, mas a sua contribuição será de um aumento de apenas 1,1% do total de energia gerada naquele ano, em todo o país. Além disso, trata-se de uma energia pouco confiável uma vez que os ventos são inconstantes e eletricidade produzida não pode ser estocada.
E assim o estudo vai dissecando previsão por previsão, tornando todas muito incertas.
É claro que a monumental tarefa de desaquecer a Terra vai demandar muito trabalho, criando muitos empregos. Mas, ao que parece, estamos longe de poder quantificá-los com precisão e muito menos de antecipar o tipo de qualificação que vão requerer - sem falar nos postos de trabalho (atuais) que serão destruídos em decorrência da própria limpeza do planeta.
Um pouco de prudência não fará mal aos que projetam melhorias automáticas na oferta de emprego. Vou estudar melhor o tema já que estamos nas vésperas da reunião de Copenhagen (7 a 18 de dezembro de 2009), que tem o objetivo de estabelecer metas para o controle das mudanças do clima.
*José Pastore é professor de relações do trabalho da FEA-USP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário