DEU EM O GLOBO
Em depoimento, ex-ministro nega mensalão, mas diz que petistas se comprometeram a ajudar a financiar campanha
BRASÍLIA. O ex-ministro das Relações Institucionais e atual conselheiro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio confirmou, em depoimento ontem à juíza Pollyana Kelly Martins Alves, da 12ª Vara Federal do Distrito Federal, que em 2003 PT e PTB fecharam uma aliança na qual petistas teriam se comprometido a apoiar financeiramente o aliado nas eleições municipais do ano seguinte. Múcio prestou depoimento como testemunha de defesa de cinco réus no processo do mensalão — o presidente do PTB, Roberto Jefferson; o publicitário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão; José Janene, ex-líder do PP; Pedro Henry, também ex-líder do PP; e Emerson Palmieri, ex-1º secretário do PTB.
— Foi um almoço na sede do PT, onde alguém perguntou “quanto vocês acham que precisam para bancar a eleição (municipal)”. A orientação do partido era a de que, quanto mais aliados tivéssemos no PT, melhor estaríamos. (O PT) trabalharia para que o acordo fosse mantido. A ideia era que fizéssemos uma parceria para a próxima eleição. Precisávamos de parceria, precisávamos de dinheiro para que a campanha fosse tocada — afirmou Múcio.
Múcio: apresentei Delúbio a Roberto Jefferson
De acordo com o ex-ministro, foi ele quem apresentou o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para o presidente do PTB na época, deputado Roberto Jefferson.
— Logo que assumi a liderança do partido fui procurado pelo Delúbio para apresentálo ao Roberto. Fui eu quem apresentei — contou.
Múcio negou, no entanto, que seu partido tenha recebido dinheiro do governo — o chamado mensalão, denunciado por Roberto Jefferson — para votar favoravelmente aos projetos do Palácio do Planalto. Segundo Múcio, as votações favoráveis ocorreram porque o partido era aliado ao governo, e não por compensação financeira.
— Em hipótese nenhuma.
Nós votávamos absolutamente favorável ao governo. Governo e PTB tinham uma indiscutível parceria.
José Múcio admitiu que tinha conhecimento do mensalão, mas disse que isso ocorreu por causa das notícias divulgadas à época, que mancharam a imagem do Congresso.
— O Brasil todo tem (conhecimento).
Foi um episódio que maculou o conceito do Legislativo.
Foi um ano negro para a democracia. Eu era líder do PTB, o partido de onde partiu a denúncia — disse.
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